sexta-feira, 3 de março de 2017

Diário do Alentejo Edição 1819

Editorial
Abraços
Paulo Barriga

Há coisa de 15 dias atrás
veio a lume uma notícia
local que, de tão mau
trato que levou na comunicação
social, “Diário do Alentejo” incluído,
por certo passou despercebida.
A Câmara Municipal de
Moura promoveu, a 17 e 18 de fevereiro,
uma espécie de “câmara
aberta” junto da diáspora mourense
que, ao longo dos anos, se
foi fixando na Suíça. Não é propriamente
novo este modelo de
“presidencialismo aberto”, que
Mário Soares inaugurou durante
a sua estada em Belém, e, talvez
por isso mesmo, a notícia fundamental
desta iniciativa autárquica
tenha passado envolta na
espuma dos dias: a criação de um
gabinete de apoio ao emigrante.
O executivo municipal de Moura
foi à Suíça ter com os seus que estão
longe para os abraçar, naturalmente,
mas também para lhes
dizer para não se preocuparem
com as pequenas pendências que
possam existir cá na santa terrinha,
a câmara tratará desses assuntos,
e para promover as coisas
boas que por cá vão acontecendo.
A aparente simplicidade do gesto
não encobre o alcance da iniciativa.
Ao dizer-lhes que podem
contar com a sua câmara municipal,
o que a equipa de vereadores
de Moura está a propor aos seus
emigrantes é uma efetiva “política
de retorno”. Está a relembrar-lhes
o quão importantes são e a
falta que fazem para o desenvolvimento
da sua terra. Isto, num
país onde todas as políticas para
fazer retornar emigrantes têm
falhado e que, nem por acaso, é o
segundo na Europa com a maior
taxa de emigração. De acordo
com o Relatório do Observatório
da Emigração da ONU, publicado
a 24 de fevereiro último, 22
por cento dos portugueses vivem
no estrangeiro. Há mais de 2,3
milhões de cidadãos nacionais a
viver lá fora e o mais grave é que
o êxodo não estancou com a saída
da Troika nem com o propalado
“fim da crise”. Só no ano de
2015 largaram de Portugal mais
de 110 mil pessoas, boa parte delas
jovens com elevada qualificação
académica. Muito se fala da
sangria demográfica ocorrida
nos anos 1960 e início dos anos
1970 mas, neste momento, estamos
a bater todos os recordes
ao nível da balança migratória.
Com a agravante para o futuro de
estarmos a exportar a custo zero
aqueles que mais poderiam ajudar
o País a sair do lodaçal económico
em que ele se atascou. É
por isso que quando a Câmara de
Moura propõe facilitar a vida aos
seus que estão longe está, afinal,
a incitar a uma nova política de
retorno: a política do abraço. Não
é tudo, mas vale por quase tudo.

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