Editorial
Flores
Paulo Barriga
É claro que vai haver dinheiro
para acabar as
obras que a subconcessionária
Estradas da Planície
já teve em marcha no Alentejo:
a autoestrada entre o aeroporto
de Beja e o porto de Sines. E
o itinerário principal entre
Castro Verde e Évora. Quanto
ao dinheiro, o povo pode
descansar, ele vai aparecer.
Manchado de sangue, mas vai
aparecer. E as estradas vão ser
feitas. Perfeitas. E serão inauguradas
com muitos raminhos
de flores colocados ao longo
das suas bermas. Assinalando
os locais do crime. Ao som de
uma qualquer marcha fúnebre,
o dinheiro aparecerá. Já se
percebeu a irresponsabilidade
a que chegou a dita “concessão
do Baixo Alentejo”. Que não
assume o abandono das obras
por parte dos subempreiteiros
e que deixa centenas de quilómetros
armadilhados, mortíferos,
especialmente no IP2. Mas
não nos preocupemos, o dinheiro
para acabar as estradas
aparecerá. Rapidamente e em
força. Quando começarem a
morrer pessoas, quando se espatifarem
mortalmente alguns
dos nossos jovens, quando se
fizer na televisão o luto pelos
defuntos. Em empreendimentos
comparticipados quase na
totalidade por fundos comunitários,
que viriam, de facto,
beneficiar o desenvolvimento
do interior, a opção política foi
o mero abandono. Com perdas
financeiras, económicas e sociais
para a região, em toda a
linha. Perdas que o inverno se
encarregará de agravar. Mas
que ninguém, em tempo algum,
irá assumir. Menos no
dia em que chegar o dinheiro,
é certo que o dinheiro chegará,
para acabar as estradas. Mas
talvez chegue a bordo das viaturas
de emergência do INEM.
Talvez. Entre as flores.
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