quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Diário do Alentejo Edição 1547

Editorial


Flores

Paulo Barriga

É claro que vai haver dinheiro

para acabar as

obras que a subconcessionária

Estradas da Planície

já teve em marcha no Alentejo:

a autoestrada entre o aeroporto

de Beja e o porto de Sines. E

o itinerário principal entre

Castro Verde e Évora. Quanto

ao dinheiro, o povo pode

descansar, ele vai aparecer.

Manchado de sangue, mas vai

aparecer. E as estradas vão ser

feitas. Perfeitas. E serão inauguradas

com muitos raminhos

de flores colocados ao longo

das suas bermas. Assinalando

os locais do crime. Ao som de

uma qualquer marcha fúnebre,

o dinheiro aparecerá. Já se

percebeu a irresponsabilidade

a que chegou a dita “concessão

do Baixo Alentejo”. Que não

assume o abandono das obras

por parte dos subempreiteiros

e que deixa centenas de quilómetros

armadilhados, mortíferos,

especialmente no IP2. Mas

não nos preocupemos, o dinheiro

para acabar as estradas

aparecerá. Rapidamente e em

força. Quando começarem a

morrer pessoas, quando se espatifarem

mortalmente alguns

dos nossos jovens, quando se

fizer na televisão o luto pelos

defuntos. Em empreendimentos

comparticipados quase na

totalidade por fundos comunitários,

que viriam, de facto,

beneficiar o desenvolvimento

do interior, a opção política foi

o mero abandono. Com perdas

financeiras, económicas e sociais

para a região, em toda a

linha. Perdas que o inverno se

encarregará de agravar. Mas

que ninguém, em tempo algum,

irá assumir. Menos no

dia em que chegar o dinheiro,

é certo que o dinheiro chegará,

para acabar as estradas. Mas

talvez chegue a bordo das viaturas

de emergência do INEM.

Talvez. Entre as flores.

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