A Partir de hoje também com o editorial!
Editorial
Luzes
Paulo Barriga
Sou a favor das luzes
de Natal, o meu
pai era eletricista.
Eletricista da Câmara. De
Beja. No tempo em que ainda
era vivo, “faziam-se” as luzes
numa breve oficina de
eletricistas que havia na rua
da Misericórdia. Faziam-se
as luzes no Natal, na feira de
Maio e na feira de Agosto.
Agora já não há feiras destas
com luzes, em Beja. Que era
a terra do meu pai eletricista.
Não há feiras, nem há Natal
com luzes. Acho que as luzes
de Natal eram uma chatice
para o meu pai e para os outros
eletricistas que com ele
as preparavam. Uma trabalheira.
Mas ficavam mesmo
bonitas. Chamavam-lhes grinaldas,
às luzes. Acho que era
porque, depois de milimetricamente
enrolados os cabos
de onde pendiam as lâmpadas
coloridas, o efeito era, de
facto, a de uma grinalda. De
uma coroa. De um diadema
preciosíssimo. Os eletricistas
tinham escadas grandes, de
madeira, às vezes duas atadas
umas às outras com fios
de eletricidade, claro, que
lhes permitia passar as luzes
por cima das árvores, dos
postes ou assim. E espalhá -
-las pela cidade, pelas ruas,
por entre as varandas, engraçadas.
Como isto das grinaldas
custava pouco dinheiro,
e era coisa caseira, provinciana,
a Câmara, as câmaras,
começaram a contratar boas
empresas, especializadas em
caras adjudicações, impecáveis
no desenho e na tecnologia,
para iluminar o Natal.
Camiões cheios de luzes. Mas
agora que falta o arame, a
primeira coisa que a austeridade
e a demagogia obrigam
é ao fim das luzes de Natal.
Um desperdício, isso das luzes
de Natal. Um esbanjamento.
Sou a favor das luzes
de Natal, porque me lembram
o meu pai, eletricista, é verdade.
Mas gosto das luzes de
Natal não apenas porque são
um bom presente para quem
pouco tem para oferecer. E o
principal para quem sabe que
nada mais vai receber.
No Natal. Do que as luzes.
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