quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Diário do Alentejo Edição 1543


A Partir de hoje também com o editorial!

Editorial


Luzes

Paulo Barriga

Sou a favor das luzes

de Natal, o meu

pai era eletricista.

Eletricista da Câmara. De

Beja. No tempo em que ainda

era vivo, “faziam-se” as luzes

numa breve oficina de

eletricistas que havia na rua

da Misericórdia. Faziam-se

as luzes no Natal, na feira de

Maio e na feira de Agosto.

Agora já não há feiras destas

com luzes, em Beja. Que era

a terra do meu pai eletricista.

Não há feiras, nem há Natal

com luzes. Acho que as luzes

de Natal eram uma chatice

para o meu pai e para os outros

eletricistas que com ele

as preparavam. Uma trabalheira.

Mas ficavam mesmo

bonitas. Chamavam-lhes grinaldas,

às luzes. Acho que era

porque, depois de milimetricamente

enrolados os cabos

de onde pendiam as lâmpadas

coloridas, o efeito era, de

facto, a de uma grinalda. De

uma coroa. De um diadema

preciosíssimo. Os eletricistas

tinham escadas grandes, de

madeira, às vezes duas atadas

umas às outras com fios

de eletricidade, claro, que

lhes permitia passar as luzes

por cima das árvores, dos

postes ou assim. E espalhá -

-las pela cidade, pelas ruas,

por entre as varandas, engraçadas.

Como isto das grinaldas

custava pouco dinheiro,

e era coisa caseira, provinciana,

a Câmara, as câmaras,

começaram a contratar boas

empresas, especializadas em

caras adjudicações, impecáveis

no desenho e na tecnologia,

para iluminar o Natal.

Camiões cheios de luzes. Mas

agora que falta o arame, a

primeira coisa que a austeridade

e a demagogia obrigam

é ao fim das luzes de Natal.

Um desperdício, isso das luzes

de Natal. Um esbanjamento.

Sou a favor das luzes

de Natal, porque me lembram

o meu pai, eletricista, é verdade.

Mas gosto das luzes de

Natal não apenas porque são

um bom presente para quem

pouco tem para oferecer. E o

principal para quem sabe que

nada mais vai receber.

No Natal. Do que as luzes.


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