sábado, 26 de novembro de 2011

Diário do Alentejo Edição 1549

Editorial


Greve

Paulo Barriga

Foi ontem, a greve. Foi

grave, a greve? A resposta

é tramada. O Governo

e os sindicatos andarão

por esta altura a contabilizar

a gravidade da greve. E, como

sempre, a greve não terá sido

assim tão grave para uns,

como o foi certamente para os

outros. O grave desta greve, a

anterior também já apontava

nesse sentido, é que a greve,

as greves gerais, estas, alteraram

o paradigma da própria

greve. Antes do abismo,

fazer a greve era uma questão

do foro dos direitos dos trabalhadores.

Depois do afundanço,

é coisa do campo dos

deveres dos cidadãos. Porque

após a nossa perda da independência

nacional para a

Alemanha, a greve passou do

trabalho para a sobrevivência.

E temos visto nos últimos

tempos, repetidamente, na

Europa e na margem sul do

Mediterrâneo, que quando

a questão está do lado da sobrevivência,

é muito raro

que os governos lhe sobrevivam.

Mesmos os mais férreos.

Mesmo os melhor engravatados.

Pode ser uma

questão de tempo. Apenas

isso. Mas não há volta a dar-lhe.

É da lei da sobrevivência

de que agora falamos.

E não do simples direito à

greve. A soberania de uma

nação assenta num tridente

elementar: órgãos representativos,

território, povo. E

povo é aquela palavrinha tramada

e pegajosa que, ao fim

de três décadas, em Portugal,

deixou de ter a tal valia ideológica,

a tal pertença a esta ou

àquela força política. A este

ou àquele sindicato. O povo,

que faz a greve, está como

as próprias greves, indomável.

Indignado. Porque deixou

de acreditar nos seus órgãos

representativos. Deixou

de acreditar, apenas. Por isso

mesmo faz da greve um dever.

E já não apenas um direito.

E isso da greve ser um

dever é mesmo muito grave.

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