sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Diário do Alentejo Edição 1546

Editorial


Glamour

Paulo Barriga

Ainda duram.

Vai para

cinco dias que comprei

um rolo de luzinhas para

a árvore de Natal no Glamour

Contagiante. Ainda duram. Não

resisti. Na primeira oportunidade,

ao primeiro pretexto, toma e embrulha:

Glamour Contagiante com

ele. E não foi propriamente pelas

luzinhas que ainda vão durando,

foi mesmo pela coisa. O Glamour

Contagiante é, numa antiga oficina

de automóveis de Beja aquilo

que, por pudor ou preconceito, os

políticos das cidades europeias,

qualquer uma delas, sempre se recusaram

criar: uma Chinatown.

Sem o cómico cheiro chop suey,

nem o bafo do pato à Pequim,

é certo, mas uma Chinatown.

Um mundo maravilhoso de tantas

coisas sem pitada de maravilha,

fabricadas por maravilhosas

crianças, tantas vezes. Como estas

luzinhas de Natal. Que por ora

ainda duram. O grande interesse

do Glamour Contagiante não está

propriamente no que se vende lá

dentro, mas no nome que o seu

criador lhe ofereceu: Glamour

Contagiante. Distantes vão os tempos

em que as lojas de quinquilharias

chinesas se chamavam Nova

China ou Pomba Branca. Agora

a coisa pia mais fino. Joga-se no

campo do marketing puro e duro.

Certeiro. A parte do contagiante,

mesmo sem lá pôr os pés, não era

difícil de deslindar. Isso do contágio,

da infeção pela multidão e pelos

magotes, é coisa que faz parte

do ser bejense. A cidade tem um

centro histórico formidável, mas

as pessoas gostam é de se encontrar

umas com as outras nos supermercados.

Há belas cafetarias

em Beja, mas o povo acha chique

tomar café nas bombas da gasolina.

As pessoas de Beja gostam

muito de se ver umas às outras e

não se importam de o fazer nos

locais mais ridículos. Umas chamam

as outras, por contágio, à

rebanhada. O nome está bem esgalhado,

já se vê. Mas a questão

do glamour é que tem o seu cheirete

de enredo. Uma loja dos chineses

com charme e encanto pelas

coisas que lá se vendem? Ainda

que aquilo que se lá venda sejam

coisas tipo roupa? Coisas que até

dão para vestir ou calçar? Coisas

muito sedutoras e fascinantes?

Lá? Nem pensar! O glamour está

nas pessoas que lá vão às compras

e na forma como se vestem

para lá irem. Pode parecer disparatado,

mas quem quiser apanhar

gente aprumadamente colunável

não vá às noites in do castelo, vá

ao Glamour Contagiante. E verá

como é conhecedor da sociedade

bejense o tipo que deu o nome à

loja. Isto é tão verdade como estas

luzinhas durarem até ao Natal.

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