Editorial
Glamour
Paulo Barriga
Ainda duram.
Vai para
cinco dias que comprei
um rolo de luzinhas para
a árvore de Natal no Glamour
Contagiante. Ainda duram. Não
resisti. Na primeira oportunidade,
ao primeiro pretexto, toma e embrulha:
Glamour Contagiante com
ele. E não foi propriamente pelas
luzinhas que ainda vão durando,
foi mesmo pela coisa. O Glamour
Contagiante é, numa antiga oficina
de automóveis de Beja aquilo
que, por pudor ou preconceito, os
políticos das cidades europeias,
qualquer uma delas, sempre se recusaram
criar: uma Chinatown.
Sem o cómico cheiro chop suey,
nem o bafo do pato à Pequim,
é certo, mas uma Chinatown.
Um mundo maravilhoso de tantas
coisas sem pitada de maravilha,
fabricadas por maravilhosas
crianças, tantas vezes. Como estas
luzinhas de Natal. Que por ora
ainda duram. O grande interesse
do Glamour Contagiante não está
propriamente no que se vende lá
dentro, mas no nome que o seu
criador lhe ofereceu: Glamour
Contagiante. Distantes vão os tempos
em que as lojas de quinquilharias
chinesas se chamavam Nova
China ou Pomba Branca. Agora
a coisa pia mais fino. Joga-se no
campo do marketing puro e duro.
Certeiro. A parte do contagiante,
mesmo sem lá pôr os pés, não era
difícil de deslindar. Isso do contágio,
da infeção pela multidão e pelos
magotes, é coisa que faz parte
do ser bejense. A cidade tem um
centro histórico formidável, mas
as pessoas gostam é de se encontrar
umas com as outras nos supermercados.
Há belas cafetarias
em Beja, mas o povo acha chique
tomar café nas bombas da gasolina.
As pessoas de Beja gostam
muito de se ver umas às outras e
não se importam de o fazer nos
locais mais ridículos. Umas chamam
as outras, por contágio, à
rebanhada. O nome está bem esgalhado,
já se vê. Mas a questão
do glamour é que tem o seu cheirete
de enredo. Uma loja dos chineses
com charme e encanto pelas
coisas que lá se vendem? Ainda
que aquilo que se lá venda sejam
coisas tipo roupa? Coisas que até
dão para vestir ou calçar? Coisas
muito sedutoras e fascinantes?
Lá? Nem pensar! O glamour está
nas pessoas que lá vão às compras
e na forma como se vestem
para lá irem. Pode parecer disparatado,
mas quem quiser apanhar
gente aprumadamente colunável
não vá às noites in do castelo, vá
ao Glamour Contagiante. E verá
como é conhecedor da sociedade
bejense o tipo que deu o nome à
loja. Isto é tão verdade como estas
luzinhas durarem até ao Natal.
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