quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Diário do Alentejo Edição 1549


Editorial


Crise

Paulo Barriga

Este foi o ano da crise. Foi?

Este foi, pelo menos, o ano

da crise anunciada. Ou o

primeiro ano do resto da nossa

crise. Ninguém sabe o que nos

trará, em termos de crise, 2012.

Mas uma coisa é certa: os agentes

sociais, transversalmente,

irão repetir a palavra crise vezes

sem conta durante o ano que

agora se propõe entrar. A palavra

crise é pegajosa, persistente

e, acima de tudo, alienatória.

Mais das vezes, de tanto matraqueada,

a crise existe ou subsiste

apenas no nosso subconsciente.

É evidente que as coisas

estão como nunca estiveram.

Mas também parece óbvio que

a repetição massiva, que a vulgarização

da crise, parece fazer

parte de uma gigantesca campanha

de persuasão que está a

levar as pessoas ao acomodamento,

ao adormecimento, à

aceitação inquestionável desta

fatalidade. A crise. O termo vem

do grego e uma das suas aceções

é precisamente “determinação”.

O contrário, por conseguinte,

do fardo que nos querem montar

às costas. Relembrar a crise

a cada instante, para lá de deprimente,

é levar ao acolhimento

da mesma. Saqueio estas palavras

a um tipo já falecido que se

chamava Einstein: “A crise é a

melhor bênção que pode ocorrer

com as pessoas e países, porque

a crise traz progressos. A criatividade

nasce da angústia, como

o dia nasce da noite escura. É na

crise que nascem as invenções,

os descobrimentos e as grandes

estratégias. Quem supera a crise,

supera-se a si mesmo sem ficar

‘superado’. Quem atribui à crise

os seus fracassos e penúrias, violenta

seu próprio talento e respeita

mais os problemas do que

as soluções. A verdadeira crise é

a crise da incompetência... Sem

crise não há desafios; sem desafios,

a vida é uma rotina, uma

lenta agonia. Sem crise não há

mérito. É na crise que se aflora

o melhor de cada um...”. É esta

a mensagem de Bom Ano que o

“Diário do Alentejo” deixa aos

seus leitores. E uma promessa:

em 2012 vamos tentar não escrever

ou escrever o menos possível

a palavra crise no nosso jornal.

Sem crise.

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