Editorial
Crise
Paulo Barriga
Este foi o ano da crise. Foi?
Este foi, pelo menos, o ano
da crise anunciada. Ou o
primeiro ano do resto da nossa
crise. Ninguém sabe o que nos
trará, em termos de crise, 2012.
Mas uma coisa é certa: os agentes
sociais, transversalmente,
irão repetir a palavra crise vezes
sem conta durante o ano que
agora se propõe entrar. A palavra
crise é pegajosa, persistente
e, acima de tudo, alienatória.
Mais das vezes, de tanto matraqueada,
a crise existe ou subsiste
apenas no nosso subconsciente.
É evidente que as coisas
estão como nunca estiveram.
Mas também parece óbvio que
a repetição massiva, que a vulgarização
da crise, parece fazer
parte de uma gigantesca campanha
de persuasão que está a
levar as pessoas ao acomodamento,
ao adormecimento, à
aceitação inquestionável desta
fatalidade. A crise. O termo vem
do grego e uma das suas aceções
é precisamente “determinação”.
O contrário, por conseguinte,
do fardo que nos querem montar
às costas. Relembrar a crise
a cada instante, para lá de deprimente,
é levar ao acolhimento
da mesma. Saqueio estas palavras
a um tipo já falecido que se
chamava Einstein: “A crise é a
melhor bênção que pode ocorrer
com as pessoas e países, porque
a crise traz progressos. A criatividade
nasce da angústia, como
o dia nasce da noite escura. É na
crise que nascem as invenções,
os descobrimentos e as grandes
estratégias. Quem supera a crise,
supera-se a si mesmo sem ficar
‘superado’. Quem atribui à crise
os seus fracassos e penúrias, violenta
seu próprio talento e respeita
mais os problemas do que
as soluções. A verdadeira crise é
a crise da incompetência... Sem
crise não há desafios; sem desafios,
a vida é uma rotina, uma
lenta agonia. Sem crise não há
mérito. É na crise que se aflora
o melhor de cada um...”. É esta
a mensagem de Bom Ano que o
“Diário do Alentejo” deixa aos
seus leitores. E uma promessa:
em 2012 vamos tentar não escrever
ou escrever o menos possível
a palavra crise no nosso jornal.
Sem crise.
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