(Birri&Galeano)
« Dou-te a minha palavra....UTOPIA ; e ofereço-a como um presente de Natal embrulhado em papel brilhante, decorado com fita acetinada e entretecido nos votos que normalmente se fazem nesta época, de
paz, amor e amizade.
A utopia faz com que estas palavras, que pronunciamos por hábito na época natalícia, fiquem prenhes de sentido, inchadas de intenções e de projectos, pássaros esvoaçantes rasgando um céu que se quer cada vez mais azul.
Ao dar-te a minha palavra, ofereço boleia num sonho que te transportará para um mundo que não existe e cujos alicerces assentam na contingência de poder-vir-a-ser. Nesse não-lugar as possibilidades são imensas, é vasto e acolhedor o espaço reservado a novas ideias, é vibrante de desejos o nosso outro eu quando perscruta os cantos, sobe colinas e alarga fronteiras. Nesse não-lugar nós descobrimos o que somos e o que poderemos um dia ser.
Basta querer. Basta sonhar.
O meu presente é feito de intenções, não vive de projectos nem se identifica com planos totalizantes e evangelizadores. Quando ofereço a utopia, ofereço-a embrulhada em papel brilhante, mas não lhe determino a cor. Reservo a quem receba a prenda o direito de reconhecer no brilho do papel a cor que entender. Já a fita acetinada, faço questão que seja verde e que seja macia ao toque, como o é a relva quando desponta no vigor do Verão. Acredito que olhando para ela e sentindo como é macia, quem vier a receber a minha prenda repudie todos os projectos que a possam secar.
Confio que saberá regá-la com sonhos e alimentá-la com acções.
É este o efeito que uma prenda de papel brilhante e fita acetinada pode ter na humanidade.....se for dada a homens de coração puro, poderemos ter o caminho iluminado e descobrir atalhos que nunca suspeitaríamos poderem existir»
Parte de um texto de Fátima Vieira
Extraído do livro A minha palavra favorita - Edição Jorge Reis Sá
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