quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1551

Editorial


Maçonaria

Paulo Barriga

Em tempos fui convidado

para entrar para a maçonaria.

Em Lisboa. Já nem

me lembro qual era a loja onde

era suposto ir assistir a algumas

sessões abertas. E aguardar

pela piadesca iniciação. Mas

durante algum tempo fui trocando

impressões com o meu

putativo angariador. E não me

foi difícil, em breve prazo, começar

a simpatizar com a ideia.

Muito mesmo. Afinal, dizia-me

ele, o amigo coletor de novos irmãos,

que a organização se baseava

nos ideais fundamentais

do republicanismo. E que as palavras-

chave para entrar em tão

secreto universo eram a generosidade,

a fraternidade, a igualdade,

a liberdade. Que, de facto,

eram conceitos cada vez mais

em desuso no mundo “secular”.

E que estavam ali mesmo à mão

de semear, no cimo de umas escadarias

de mármore, de olhos

vendados, aventalado, rodeado

de gente cheia de tiques esquisitos.

Só havia um, um não, dois

pequenos senãos que sempre me

desviavam os passos para longe

daquele paraíso na terra. Mas se

a coisa existia para fazer o bem

comum, para engrandecer espiritualmente

o Homem, por que

carga de água teria de ser feita às

escondidas? Debaixo de um secretismo

algo assaloiado, clandestino.

Que tal discrição ou

prudência servia para prevenir

perseguições e malfeitorias externas,

assegurava-me ele. Mas

quem é que estaria interessado

em perseguir o bem, o homem

honesto, livre e embebido nos

bons costumes? Resposta que

vim obtendo nas últimas semanas.

Quando a conta-gotas, e

por vezes em torrente descontrolada,

se tornou público que

a maçonaria, esta maçonaria,

se dedica vorazmente ao tráfico

de influências em defesa de um

único ideal, a ganância, completamente

contrário ao sonho que

ali por perto me detinha: uma

ideia de progresso. O segundo

senão teve a ver com uma pergunta

muito simples do meu

engajador: és comunista? Devo

ter respondido que sim. Nunca

mais tornou ao assunto.

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