Editorial
Maçonaria
Paulo Barriga
Em tempos fui convidado
para entrar para a maçonaria.
Em Lisboa. Já nem
me lembro qual era a loja onde
era suposto ir assistir a algumas
sessões abertas. E aguardar
pela piadesca iniciação. Mas
durante algum tempo fui trocando
impressões com o meu
putativo angariador. E não me
foi difícil, em breve prazo, começar
a simpatizar com a ideia.
Muito mesmo. Afinal, dizia-me
ele, o amigo coletor de novos irmãos,
que a organização se baseava
nos ideais fundamentais
do republicanismo. E que as palavras-
chave para entrar em tão
secreto universo eram a generosidade,
a fraternidade, a igualdade,
a liberdade. Que, de facto,
eram conceitos cada vez mais
em desuso no mundo “secular”.
E que estavam ali mesmo à mão
de semear, no cimo de umas escadarias
de mármore, de olhos
vendados, aventalado, rodeado
de gente cheia de tiques esquisitos.
Só havia um, um não, dois
pequenos senãos que sempre me
desviavam os passos para longe
daquele paraíso na terra. Mas se
a coisa existia para fazer o bem
comum, para engrandecer espiritualmente
o Homem, por que
carga de água teria de ser feita às
escondidas? Debaixo de um secretismo
algo assaloiado, clandestino.
Que tal discrição ou
prudência servia para prevenir
perseguições e malfeitorias externas,
assegurava-me ele. Mas
quem é que estaria interessado
em perseguir o bem, o homem
honesto, livre e embebido nos
bons costumes? Resposta que
vim obtendo nas últimas semanas.
Quando a conta-gotas, e
por vezes em torrente descontrolada,
se tornou público que
a maçonaria, esta maçonaria,
se dedica vorazmente ao tráfico
de influências em defesa de um
único ideal, a ganância, completamente
contrário ao sonho que
ali por perto me detinha: uma
ideia de progresso. O segundo
senão teve a ver com uma pergunta
muito simples do meu
engajador: és comunista? Devo
ter respondido que sim. Nunca
mais tornou ao assunto.
Sem comentários:
Enviar um comentário