quinta-feira, 15 de março de 2012

Diário do Alentejo Edição 1560

Editorial
Ainda
Paulo Barriga

Faltam apenas alguns
dias para dar entrada na
Unesco a candidatura do
cante alentejano a Património
da Humanidade. São os dias
mais difíceis para a nossa maneira
de cantar. Desde que temos
esta maneira de cantar.
Porque são dias de aperto, de
grande ansiedade, de indefinição
e, antes de tudo, de divisão.
Neste instante o cante está entrincheirado.
Está partido, perdido,
entre duas forças que o
disputam mais no campo da batalha
política do que nas suas searas
de nascença. A Câmara de
Serpa, certamente por ter trabalho
adiantado na matéria, decidiu
avançar repentinamente
para esta candidatura. Sozinha,
de início. Agregando outras autarquias,
entidades, grupos corais,
agentes culturais ao longo
do processo. Mas não todos.
Não o cante todo. Todo o cante
do mundo. Pelo que é repetidamente
acusada de desmedido
e despropositado protagonismo
numa matéria que diz
respeito a um território muito
mais vasto que o seu. Os detratores
desta candidatura acusam-
na, à Câmara de Serpa, de
se estar a apropriar indecorosamente
do mais valioso bem comum
que o Alentejo tem. Que o
Alentejo todo, em todas as partidas
do mundo, tem. Embora
saibamos que o cante costuma
acontecer numa área de influência
muito coincidente com o distrito
de Beja. Mais cuidadosos,
ou realistas, talvez, os cientistas
acham que a candidatura sofre
de insanáveis lacunas técnicas
e metodológicas, enfermidades
que deveriam ser sanadas em
tempo próprio. E que esta candidatura,
que é unânime, afinal,
deveria sofrer um adiamento de,
pelo menos, um ano. Para não se
correr o risco de vir de Paris recusada.
E o curioso desta questão
é que todos parecem ter razão.
Sem que haja qualquer
razão para dizimar a unidade,
ainda que diversa, que nos faz
cantar a todos, lado a lado, ombro
a ombro, geração após geração.
É que o cante já é património
da Humanidade. A Unesco é
que talvez não saiba. Ainda



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