Editorial
Velhos
Paulo Barriga
Há já um
bom par de meses
que
o “Diário do
Alentejo”
anda em excursão
pelas
aldeias da região.
Ainda
esta semana fomos a
Santana
de Cambas, Mértola.
E
sempre que de lá voltamos,
das
nossas aldeias, chegamos
mais
abastados. Muito mais ricos
interiormente
do que anteriormente
éramos
quando para
lá
fomos. Porque é lá que habitam,
de
facto, os últimos resistentes.
Os
guardiães da nossa
cultura,
da nossa memória coletiva.
Ancestral.
É lá que residem
os
mais rijos e vigorosos
alentejanos.
Ainda que tal vigor
e
rijeza possam, de forma enganosa,
aparente,
estar pendidos
num
cajado ou enrodilhados debaixo
de
um xaile negro. A desertificação
humana
do Alentejo
é
uma realidade inquestionável.
Assustadora,
até. Mas o envelhecimento
das
comunidades
rurais
não é em si um problema.
Ou
“o problema”. O abandono,
o
isolamento, o esquecimento a
que
estão votadas estas populações
é
que é aflitivo. Envelhecer
é
a coisa mais natural desta vida.
Conviver
com a solidão e com
o
silêncio que o corte geracional
faz
é que mata. As nossas aldeias
estão
pejadas de velhos. E
são
eles, os sábios da nossa terra,
os
nossos anciãos, os primeiros
a
sofrer na pele as consequências
dos
disparates que os doutores
que
habitam os gabinetes das
cidades
praticam. Para estes, viver
numa
aldeia do Alentejo é sinónimo
de
qualidade de vida.
Ainda
que por lá possa não existir
médico,
emprego, transportes
públicos,
ruas pavimentadas,
ambulância
ou até um
simples
telefone. Qualidade de
vida.
Ainda que os que por ali
teimam
em sobreviver paguem
os
mesmos impostos, a eletricidade
ao
mesmo preço, os medicamentos
sem
descontos, tal
como
nas grandes cidades acontece.
E
onde, supostamente, não
existe
qualidade de vida. São os
velhos
das nossas aldeias, persistentes
e
firmes, que ainda fazem
de
Portugal um todo. Um
país
por inteiro. E não uma barcaça
cada
vez mais entornada
para
o litoral. Com uma cidade
colossal
na proa que se afunda.
E
onde dizem que até nem existe
qualidade de vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário