quinta-feira, 3 de maio de 2012

Diário do Alentejo Edição 1567

Editorial


Nabal

Paulo Barriga

Não se pode ter sol na

eira e água do nabal.

Ao mesmo tempo. Diz

o povo. Debaixo da sua inabalável

sabedoria. Locução antiga,

comprovada pela passagem do

tempo. Dos tempos. Pelos ciclos

da vida. Mas que não se aplica

à Ovibeja, esse fenómeno paranormal

que há 29 anos a esta

parte assola a cidade de Beja.

Nem se aplica o velho ditado,

nem se aplicam as novenas pela

chuva. Por muito bem cantadas

e consumadas que elas sejam.

As novenas. Os agricultores

do Alentejo já se deveriam ter

apercebido desse admirável detalhe.

Há muito tempo. Sempre

que lhes falta a água nos seus

nabais, em vez de mendigarem

subsídios e preces, deviam antes

organizar uma Ovibeja. Que

é a única fórmula comprovada,

repetidamente demonstrada,

de trazer chuva ao Alentejo. Em

abundância. Ainda que os tempos

sejam de seca. Como este

ano aconteceu. Como sempre

costuma acontecer. A Ovibeja

girou já por várias datas diferentes.

Entre março e maio. E a

única participação na feira que

sempre esteve assegurada de um

ano para o outro foi a da chuva.

Água no nabal. Mas o curioso é

que, ao contrário do que seria de

prever, a chuva parece não afastar

o sol da eira. Em ano de profunda

depressão económica, financeira

e social, a Ovibeja

voltou a brilhar resplandecentemente.

Milhares e milhares

de visitantes acorreram à cidade

como se não houvesse amanhã.

Aliás, esta foi, por certo, uma

das mais concorridas edições

do certame. Demonstrando que

Beja necessita de iniciativas que

lhe levantem a autoestima. E a

Ovibeja, muito mais do que uma

feira de atividades económicas,

muito mais do que a velha feira

da bota caneleira, é hoje uma

feira de afetos. Uma feira de reencontros.

Uma feira de amizades.

O grande largo do Alentejo.

Sempre solarengo. Ainda que

possa estar a chover água a cântaros.

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