quinta-feira, 24 de maio de 2012

Diário do Alentejo Edição 1570

Editorial
Cooperar

Paulo Barriga

O
ultraliberalismo venceu

– está a vencer – em

toda a linha. A globalização

económica e financeira, ao

inverso do que vaticinaram os

seus teóricos fundadores, não arrastou

consigo a melhoria da qualidade

de vida do Homem. Nem

trouxe à tona o “homem novo”

pós-moderno, pós-marxista, independente,

livre, ativo e participante

na sociedade, como seria

de prever. Pelo contrário, o capitalismo

desaçaimado, sem regras

que não as da concentração obscena

da riqueza, revelou-se o cadafalso

da própria Humanidade.

Implementou a pobreza ao

mesmo tempo que foi espalhando

ilusoriamente a boa-nova da

abundância. Contaminou o planeta,

talvez de forma irreversível,

enquanto apregoava as boas práticas

ambientais. Substituiu a democracia

e a independência dos

Estados pela ditadura férrea dos

mercados. Engordou até estoirar,

com a fome das populações e

as riquezas naturais do dito “terceiro

mundo”. Mesmo no seu próprio

terreno, no terreno dos negócios,

das empresas, a voracidade

da concentração tem-se mostrado

indomável. O comércio de proximidade

e a pequena revenda,

por exemplo, perderam por completo

o interesse das multinacionais.

Por cada microempresa que

fecha no tecido urbano das cidades

há uma canada de foguetes

lançada ao ar pelos tubarões

do retalho. É a festa pela concorrência

que se esbate. E cada desempregado,

apesar da sua frágil

condição, acaba por se manter

um potencial cliente. É assim que

sobrevive o atual sistema: desunindo

para reinar. Cada homem

quer-se um átomo isolado numa

mole amorfa, obediente, sem

vontade própria. O curioso é que

o apelo desenfreado ao individualismo

não afeta apenas o fulano

consumidor. Afeta todo o tecido e

qualquer organização social. Hoje

em dia, excluindo o fenómeno futebolístico,

assiste-se ao colapso

completo do associativismo. E

principalmente à implosão do cooperativismo.

Que foi a melhor

invenção alguma vez alcançada

para combater precisamente a ganância

do individualismo capitalista.

Mas este movimento que

apela à participação de todos os

associados para atingir o bem comum

– ao nível da produção, do

comércio ou da cultura – também

fracassou. Porque, ao contrário

dos seus princípios fundamentais,

coletivistas e democráticos, a

primeira ambição dos seus dirigentes,

que se quiseram perpetuar

nas diferentes direções, foi precisamente

jogar de igual para igual

no tabuleiro do adversário ao jogo

do um por todos e cada qual por

si. E acabaram por perder, claro.

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