Editorial
Cooperar
Paulo Barriga
O
ultraliberalismo venceu
– está a vencer – em
toda a linha. A globalização
económica e financeira, ao
inverso do que vaticinaram os
seus teóricos fundadores, não arrastou
consigo a melhoria da qualidade
de vida do Homem. Nem
trouxe à tona o “homem novo”
pós-moderno, pós-marxista, independente,
livre, ativo e participante
na sociedade, como seria
de prever. Pelo contrário, o capitalismo
desaçaimado, sem regras
que não as da concentração obscena
da riqueza, revelou-se o cadafalso
da própria Humanidade.
Implementou a pobreza ao
mesmo tempo que foi espalhando
ilusoriamente a boa-nova da
abundância. Contaminou o planeta,
talvez de forma irreversível,
enquanto apregoava as boas práticas
ambientais. Substituiu a democracia
e a independência dos
Estados pela ditadura férrea dos
mercados. Engordou até estoirar,
com a fome das populações e
as riquezas naturais do dito “terceiro
mundo”. Mesmo no seu próprio
terreno, no terreno dos negócios,
das empresas, a voracidade
da concentração tem-se mostrado
indomável. O comércio de proximidade
e a pequena revenda,
por exemplo, perderam por completo
o interesse das multinacionais.
Por cada microempresa que
fecha no tecido urbano das cidades
há uma canada de foguetes
lançada ao ar pelos tubarões
do retalho. É a festa pela concorrência
que se esbate. E cada desempregado,
apesar da sua frágil
condição, acaba por se manter
um potencial cliente. É assim que
sobrevive o atual sistema: desunindo
para reinar. Cada homem
quer-se um átomo isolado numa
mole amorfa, obediente, sem
vontade própria. O curioso é que
o apelo desenfreado ao individualismo
não afeta apenas o fulano
consumidor. Afeta todo o tecido e
qualquer organização social. Hoje
em dia, excluindo o fenómeno futebolístico,
assiste-se ao colapso
completo do associativismo. E
principalmente à implosão do cooperativismo.
Que foi a melhor
invenção alguma vez alcançada
para combater precisamente a ganância
do individualismo capitalista.
Mas este movimento que
apela à participação de todos os
associados para atingir o bem comum
– ao nível da produção, do
comércio ou da cultura – também
fracassou. Porque, ao contrário
dos seus princípios fundamentais,
coletivistas e democráticos, a
primeira ambição dos seus dirigentes,
que se quiseram perpetuar
nas diferentes direções, foi precisamente
jogar de igual para igual
no tabuleiro do adversário ao jogo
do um por todos e cada qual por
si. E acabaram por perder, claro.
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