sexta-feira, 8 de junho de 2012

Diário do Alentejo Edição 1572


012

Editorial

Portugal

Paulo Barriga


Hoje é Dia dos Oceanos.

Depois de amanhã é Dia

de Portugal. Por esta

oca sião é impossível não relembrar

a grande mentira que nos

pregaram todos os governos

da Nação da chamada “época

de ouro”. De Cavaco, aos fujões

Guterres e Barroso. Que nos iludiram,

abanando os maços de

notas que chegavam de Bruxelas

aos fardos, com a ideia de que

éramos ricos. Por fim, Portugal

descobrira a rota da fortuna.

Qual pimenta da Índia, qual ouro

do Brasil, quais escravos africanos.

Sem botar uma única tábua

a flutuar no oceano, Portugal

desvendara os labirínticos caminhos

para o Eldorado. Que afinal

estava aqui tão perto. Bem

no coração da Europa. A concretização

da Exposição Mundial

de Lisboa, em 1998, era o apogeu

dessa era de fartura. Portugal

mostrava ao mundo a abastança

do seu novo novo-riquismo. A

sua cegueira. O seu delírio coletivo

inspirado no dinheiro fácil

mas envenenado que recolhia

aos magotes junto dos novos

amigos europeus. Numa bebedeira

coletiva sem precedentes.

Por fim ricos. Por fim membros

de pleno direito do restrito clube

do “primeiro mundo”. E a todos

mostrávamos a nossa suposta

vocação atlântica. Um misto de

profecia bandarrista, de enublado

sebastiânico, de jangada

de pedra. Quando, isso sim, tínhamos

acabado de trilhar, pela

primeira vez na nossa História,

os atalhos terrestres para a desgraça.

De olhos vendados. E

a marchar alegremente sobre

a ponte dos rejeitados. Jorge

Palma, numa das suas mais sublimes

canções, fala disso: Ai

Portugal, do que estás à espera?

Tens um pé numa galera. E o outro

no fundo do mar. Portugal.

O sublime promontório onde

a Europa nunca se assomou.

Longínquo e soalheiro. Onde a

Europa nunca se quis assomar.

Pobre e demorado. A não ser em

tempos de saque. Como agora

acontece tão exuberantemente.

Portugal com um pé numa galera.

Portugal com o outro pé no

fundo do mar. Naufragado nas

tormentas da velha Europa. Tal

como em tempos Sepúlveda sucumbiu

nas costas de África.

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