012
Editorial
Portugal
Paulo Barriga
Hoje é Dia dos Oceanos.
Depois de amanhã é Dia
de Portugal. Por esta
oca sião é impossível não relembrar
a grande mentira que nos
pregaram todos os governos
da Nação da chamada “época
de ouro”. De Cavaco, aos fujões
Guterres e Barroso. Que nos iludiram,
abanando os maços de
notas que chegavam de Bruxelas
aos fardos, com a ideia de que
éramos ricos. Por fim, Portugal
descobrira a rota da fortuna.
Qual pimenta da Índia, qual ouro
do Brasil, quais escravos africanos.
Sem botar uma única tábua
a flutuar no oceano, Portugal
desvendara os labirínticos caminhos
para o Eldorado. Que afinal
estava aqui tão perto. Bem
no coração da Europa. A concretização
da Exposição Mundial
de Lisboa, em 1998, era o apogeu
dessa era de fartura. Portugal
mostrava ao mundo a abastança
do seu novo novo-riquismo. A
sua cegueira. O seu delírio coletivo
inspirado no dinheiro fácil
mas envenenado que recolhia
aos magotes junto dos novos
amigos europeus. Numa bebedeira
coletiva sem precedentes.
Por fim ricos. Por fim membros
de pleno direito do restrito clube
do “primeiro mundo”. E a todos
mostrávamos a nossa suposta
vocação atlântica. Um misto de
profecia bandarrista, de enublado
sebastiânico, de jangada
de pedra. Quando, isso sim, tínhamos
acabado de trilhar, pela
primeira vez na nossa História,
os atalhos terrestres para a desgraça.
De olhos vendados. E
a marchar alegremente sobre
a ponte dos rejeitados. Jorge
Palma, numa das suas mais sublimes
canções, fala disso: Ai
Portugal, do que estás à espera?
Tens um pé numa galera. E o outro
no fundo do mar. Portugal.
O sublime promontório onde
a Europa nunca se assomou.
Longínquo e soalheiro. Onde a
Europa nunca se quis assomar.
Pobre e demorado. A não ser em
tempos de saque. Como agora
acontece tão exuberantemente.
Portugal com um pé numa galera.
Portugal com o outro pé no
fundo do mar. Naufragado nas
tormentas da velha Europa. Tal
como em tempos Sepúlveda sucumbiu
nas costas de África.
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