sexta-feira, 22 de junho de 2012
Diário do Alentejo Edição 1574
Editorial
TV
Paulo Barriga
Pela altura que encerramos
os trabalhos desta edição
do “DA” ainda não sabemos
se o Cristiano Ronaldo fez
algum chapéu ao guarda-redes da
República Checa. Ou qualquer outra
daquelas suas maldades que
tanto gozo e ânimo nos dão. Tal
apenas acontecerá quando já tivermos
o jornal na mão. Prontinho e
impresso. Pelo que não vale mesmo
nada a pena estar por agora a fazer
futurologia com o desempenho
e os enredos da participação
portuguesa no Europeu de Futebol.
Certo, certo, é que nesta quinta -
-feira, ontem mesmo, ao princípio
da noite, o País parou. Ou terá parado.
Para se refastelar defronte de
uma qualquer televisão. Com os
nervos miudinhos e os corações ao
alto. O País, quer dizer, parte dele.
Porque nestas coisas da democracia,
da equidade, das oportunidades,
da qualidade de vida, da igualdade
de direitos, Portugal não é
um país. Propriamente. É um pedaço
de terra juntinho ao mar.
Amontoado. Asselvajado. O interior,
de cima a baixo, onde moram
os resistentes, os teimosos e os velhos,
raramente faz parte do rosário
dessa nação valente. Que ontem,
se não rejubilou com os golos
da seleção, terá praguejado com
as táticas e as más escolhas do selecionador
ou com a falta de classe
dos nossos heróis do dia anterior.
Defronte da televisão. Defronte
dessa tal caixinha que mudou o
mundo. Para melhor. Mas que para
alguns, com o recente advento da
digitalização do sinal, deixou de
brilhar. Para alguns, como acontece
nas aldeias de Ourique ou nos
cabeços perdidos de Mértola, o
mundo não mudou. Apenas desapareceu
num mar de pequenas estrelinhas.
A apressada introdução
da TDT, para lá da injustiça social
que muitas vezes está por detrás da
sua implementação, veio retirar o
sinal que ligava milhares de famílias
ao mundo. Talvez ontem tenha
sido um grande dia para o futebol
nacional. Um dia de grande
euforia coletiva. Um dia com um
país (quase) inteiro pregado à televisão.
Mas por muito boa que tenha
sido a exibição dos nossos craques
e por excelente que tenha sido
o resultado, há muita gente nesses
montes que não irá colocar a bandeira
nacional à porta. E que estará
disposta a fazer fortes críticas
a Portugal. Esse país que continua
a ser apenas para alguns. Mesmo
nos melhores momentos.
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