quinta-feira, 19 de julho de 2012

Diário do Alentejo Edição 1578



Editorial


No fundo

Paulo Barriga


O ministro Álvaro Pereira e o

presidente da Agência para

o Investimento e Comércio

Externo de Portugal vieram ao

Alentejo fazer a festa. Na passada

sexta-feira. Vieram escutar da boca do

presidente da Somincor que esta empresa

irá investir 130 milhões de euros

até 2013. Nas minas de Neves-Corvo.

E que, se a coisa correr bem, poderão

ser perto de 700, os milhões que a

empresa canadiana Lundin Mining,

concessionária do couto mineiro, enterrará

por debaixo de Castro Verde e

Almodôvar nos próximos cinco anos.

O que garantirá ali, disseram, a exploração

de cobre até 2021 e a de zinco até

2029. Uma boa notícia, esta, a da manutenção

por mais alguns anos de

perto de um milhar de postos de trabalho

numa região tão parca em empregos

como a nossa. E num período

económico tão marafado como o que

vivemos. Resta agora saber quais as

contrapartidas e os custos que este negócio

trará para o Estado português.

E em que estado ficará a região do

Campo Branco depois de terminar a

corrida ao eldorado. É que por muito

significativo e importante que seja o

investimento, a mineração é uma indústria

muito especial e bem diversa

das restantes. Um olival é um olival.

Aproveita o ciclo natural para dar

azeitona ano após ano. Poderá esgotar

a terra, é um facto, e até deixar algumas

mazelas por contaminação dos

aquíferos. Mas nada que a própria natureza

não se encarregue de restabelecer

em alguns invernos. Já uma mina

obriga a outros ciclos. Por muito elementar,

básica até, que seja a observação,

sempre que se extrai uma riqueza

do subsolo, empobrece-se. É

um paradoxo incorrigível. O minério

é uma fonte esgotável. Não se replanta.

É uma abastança precária e finita.

E é com algum desconforto que

o vemos abalar em vagonetas para

fora do País, retirado definitivamente

das entranhas da nossa terra por empresas

estrangeiras. A grande dúvida

é saber se valerá a pena. Para já, em

termos económicos e sociais, numa

zona muito restrita e demarcada, sim.

Mas o que será de Castro Verde e de

Almodôvar depois de 2029? Terras de

monoeconomia. Que vivem quase em

exclusivo das minas. Que não diversificaram

o seu tecido empresarial. E

que ficam mais pobres a cada petardo

que rebenta lá no fundo. Apenas com

a certeza de que um dia a coisa acabará.

E que lhes restará apenas os escombros

e os rejeitados. E uma bela

e eternamente contaminada paisagem

lunar. No fundo, foi assim em

São Domingos. Foi assim no Losal

E em Caveira.

Foi assim em Aljustrel.

Lembram-se?

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