Editorial
No fundo
Paulo Barriga
O ministro Álvaro Pereira e o
presidente da Agência para
o Investimento e Comércio
Externo de Portugal vieram ao
Alentejo fazer a festa. Na passada
sexta-feira. Vieram escutar da boca do
presidente da Somincor que esta empresa
irá investir 130 milhões de euros
até 2013. Nas minas de Neves-Corvo.
E que, se a coisa correr bem, poderão
ser perto de 700, os milhões que a
empresa canadiana Lundin Mining,
concessionária do couto mineiro, enterrará
por debaixo de Castro Verde e
Almodôvar nos próximos cinco anos.
O que garantirá ali, disseram, a exploração
de cobre até 2021 e a de zinco até
2029. Uma boa notícia, esta, a da manutenção
por mais alguns anos de
perto de um milhar de postos de trabalho
numa região tão parca em empregos
como a nossa. E num período
económico tão marafado como o que
vivemos. Resta agora saber quais as
contrapartidas e os custos que este negócio
trará para o Estado português.
E em que estado ficará a região do
Campo Branco depois de terminar a
corrida ao eldorado. É que por muito
significativo e importante que seja o
investimento, a mineração é uma indústria
muito especial e bem diversa
das restantes. Um olival é um olival.
Aproveita o ciclo natural para dar
azeitona ano após ano. Poderá esgotar
a terra, é um facto, e até deixar algumas
mazelas por contaminação dos
aquíferos. Mas nada que a própria natureza
não se encarregue de restabelecer
em alguns invernos. Já uma mina
obriga a outros ciclos. Por muito elementar,
básica até, que seja a observação,
sempre que se extrai uma riqueza
do subsolo, empobrece-se. É
um paradoxo incorrigível. O minério
é uma fonte esgotável. Não se replanta.
É uma abastança precária e finita.
E é com algum desconforto que
o vemos abalar em vagonetas para
fora do País, retirado definitivamente
das entranhas da nossa terra por empresas
estrangeiras. A grande dúvida
é saber se valerá a pena. Para já, em
termos económicos e sociais, numa
zona muito restrita e demarcada, sim.
Mas o que será de Castro Verde e de
Almodôvar depois de 2029? Terras de
monoeconomia. Que vivem quase em
exclusivo das minas. Que não diversificaram
o seu tecido empresarial. E
que ficam mais pobres a cada petardo
que rebenta lá no fundo. Apenas com
a certeza de que um dia a coisa acabará.
E que lhes restará apenas os escombros
e os rejeitados. E uma bela
e eternamente contaminada paisagem
lunar. No fundo, foi assim em
São Domingos. Foi assim no Losal
E em Caveira.
Foi assim em Aljustrel.
Lembram-se?
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