quinta-feira, 26 de julho de 2012

Diário do Alentejo Edição 1579

Editoria
Fogo
Paulo Barriga
O País está a arder. Literalmente.

E as chamas

que o consomem emanam

não apenas da doença mental

de meia-dúzia de alienados.

Que se deleitam com o espetáculo

infernal das labaredas. Eles

próprios inflamados com o seu

criminoso padecimento. Por entre

o cheiro da terra queimada e o

fedor da demência, há outro odor

que se propaga com ferocidade.

O dos interesses, múltiplos, diversos,

sempre económicos, que

fazem alastrar as chamas tão ou

mais intensamente que o próprio

vento. Mesmo quando, indomável,

sopra sobre as serranias do

Algarve ou da Madeira. Cá está

um exercício interessante para

o Ministério Público ocupar as

longas férias judiciais: verificar

quanto custa ao País um verão

em lumaréu. E quanto e como e

quem recebe essas forras carbonizadas.

A nossa floresta está dizimada.

E as poucas manchas florestais

que resistem, muitas delas

património do Estado, estão num

estado deplorável. Repletas de

mato, de material orgânico, de

lixo. As matas portuguesas são

uma verdadeira tentação para os

incendiários. Sejam eles meros

malucos ou sinistros calculistas.

Enquanto o Governo, igualmente

de forma incendiária, gasta papel

de lei na liberalização generalizada

da plantação do eucalipto,

cedendo com ignomínia aos poderosos

lóbis da indústria do papel,

deveria antes prestar atenção

aos seus próprios matagais.

E exigir igual rigor aos produtores

particulares. No final, por

certo, as contas ficariam mais ligeiras

para o erário público. Já a

nossa região tem passado com alguma

incolumidade a este verão

de Dante. Pouco resta para arder.

E ainda não é tempo de arder o

pouco que resta. Confessam os

bombeiros que a época de incêndios,

por cá, é mais tardia.

Acontece na reabertura da caça.

Quando as lutas entre couteiros

se acende, na verdadeira aceção

do verbo acender. Entretanto, os

nossos soldados da paz acorrem

às chamadas algarvias. Muitas

vezes sem meios. E por puro voluntarismo.

Homens e mulheres

assim há poucos. Cada vez menos.

E nós que tanto deles precisamos.

Sempre. Muito.

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