Editoria
Fogo
Paulo Barriga
O País está a arder. Literalmente.
E as chamas
que o consomem emanam
não apenas da doença mental
de meia-dúzia de alienados.
Que se deleitam com o espetáculo
infernal das labaredas. Eles
próprios inflamados com o seu
criminoso padecimento. Por entre
o cheiro da terra queimada e o
fedor da demência, há outro odor
que se propaga com ferocidade.
O dos interesses, múltiplos, diversos,
sempre económicos, que
fazem alastrar as chamas tão ou
mais intensamente que o próprio
vento. Mesmo quando, indomável,
sopra sobre as serranias do
Algarve ou da Madeira. Cá está
um exercício interessante para
o Ministério Público ocupar as
longas férias judiciais: verificar
quanto custa ao País um verão
em lumaréu. E quanto e como e
quem recebe essas forras carbonizadas.
A nossa floresta está dizimada.
E as poucas manchas florestais
que resistem, muitas delas
património do Estado, estão num
estado deplorável. Repletas de
mato, de material orgânico, de
lixo. As matas portuguesas são
uma verdadeira tentação para os
incendiários. Sejam eles meros
malucos ou sinistros calculistas.
Enquanto o Governo, igualmente
de forma incendiária, gasta papel
de lei na liberalização generalizada
da plantação do eucalipto,
cedendo com ignomínia aos poderosos
lóbis da indústria do papel,
deveria antes prestar atenção
aos seus próprios matagais.
E exigir igual rigor aos produtores
particulares. No final, por
certo, as contas ficariam mais ligeiras
para o erário público. Já a
nossa região tem passado com alguma
incolumidade a este verão
de Dante. Pouco resta para arder.
E ainda não é tempo de arder o
pouco que resta. Confessam os
bombeiros que a época de incêndios,
por cá, é mais tardia.
Acontece na reabertura da caça.
Quando as lutas entre couteiros
se acende, na verdadeira aceção
do verbo acender. Entretanto, os
nossos soldados da paz acorrem
às chamadas algarvias. Muitas
vezes sem meios. E por puro voluntarismo.
Homens e mulheres
assim há poucos. Cada vez menos.
E nós que tanto deles precisamos.
Sempre. Muito.
Sem comentários:
Enviar um comentário