sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Dá-me asas!

Ontem fui para o jardim e desenhei um anjo.


— Obrigado — disse-me ele quando me preparava para lhe desenhar as asas. — Está muito bonito. Mas não me desenhes essas asas. Sabes, aquelas em que estás a pensar agora, com as grandes penas brancas.

— Porque não?

— Essas incomodam um pouco. Estão sempre a atrapalhar, a prenderem-se nos ramos, nos fios da electricidade, e, como sou um tanto distraído, bato com elas em todo o lado. Ah! E sujam-se imenso! Gostava de ter uma coisa nova. Pensa em algo de diferente. Dá-me asas...

Desenhei-lhe então asas de ondas de mar, depois, asas de erva e asas de vidro reluzente. Tentei também com uma fita de luz, com um raio de sol, com ramos em flor, com um turbilhão de neve e até com uma centelha de alegria. Experimentei asas de algodão, asas de vento e até mesmo asas de imaginação!

Desenhei-lhe asas de letras e asas de papel branco.

Observei-o atentamente e dei-lhe umas asas com sardas.

— Obrigado — disse o anjo quando acabou de experimentar todas as minhas asas. — Gostei muito de tudo o que me deste. Mas agora é a tua vez!

Fechei os olhos. De repente, senti que tudo estava a ficarleve. Tive a impressão de perder o meu corpo e de ficar só com os meus contornos.

— Desta vez vamos dar só um passeio pequenino — disse o anjo. — Para que em tua casa ninguém fique preocupado com a demora.

E voámos por três vezes em volta da velha nogueira do meu jardim.



Heinz Janisch

Schenk mir Flügel

St. Pölten, NP Buchverlag, 2003

(Tradução e adaptação)

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