Editorial
Educar
Paulo Barriga
Ainda vai um valente
caminho entre educar
e ensinar. E mesmo
quando ensino e educação estão
lado a lado, na mesmíssima coordenada,
as veredas para chegar
a um e a outra raramente
são coincidentes, sequer paralelas.
Sempre distantes. Muito
distantes, mesmo. Há excessivo
tempo que o nosso sistema de
ensino está morto para a educação.
Desde o 25 de Abril, talvez.
Desde o tempo, pelo menos,
em que os professores, de forma
progressiva, foram perdendo autoridade
na sala de aula, foram
perdendo poder na organização
escolar, foram perdendo o direito
à palavra, à sua palavra, foram
convertidos em verdadeiros
burocratas do relatório. Da exposição.
Da ata. Dos concursos.
Da justificação escrita e exaustiva
dos mais inacreditáveis e
míseros acontecimentos letivos.
Como o simples facto de atribuir
uma nota negativa ou marcar
uma falta corretiva. Hoje, o
professor é um verdadeiro amanuense
da vulgaridade. Um escravo
da papelada. Que consome
o tempo não a instruir-se, não a
aprender, não a ensinar, muito
menos a educar. O professor é,
por certo, o elo mais fraco, mais
exposto e menos valorizado da
cadeia educativa. E só num país
muito mal-educado, que despreza
por completo quem transmite
conhecimento às gerações
subsequentes, é que aparecem
amiúde os tais fenómenos relâmpago,
medíocres, que podem
derivar em ministros ou
até mesmo em primeiros-ministros.
A educação está extinta na
escola, já se disse, e agora está
na altura de acabar com o ensino.
O “pacote” revolucionário
que Nuno Crato quer imprimir
ao parque escolar português
é a guia de marcha para o descalabro.
A criação de turmas com
30 alunos, a fusão de escolas em
agrupamentos despropositados
e inviáveis, a extinção de cursos
profissionais, a desvalorização
do acompanhamento de alunos
com necessidades especiais,
vai acabar de vez com a Escola.
Vai acabar de vez com a carreira
docente com decência. E manda
para o olho da rua dezenas de
milhar desses seres execráveis e
desnecessários que são os professores.
Principalmente aqueles
que estão no patamar do espezinhanço:
os contratados.
Ainda que estes, em muitos casos,
tenham aturado todas estas
trapalhadas durante mais de
uma dezena de anos. É necessário
ter estômago para ser professor
num país onde já nem sequer
o fado induca, nem o vinho instrói.
Quanto mais a Escola.
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