quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Diário do Alentejo Edição 1580


Editorial
Educar

Paulo Barriga
Ainda vai um valente

caminho entre educar

e ensinar. E mesmo

quando ensino e educação estão

lado a lado, na mesmíssima coordenada,

as veredas para chegar

a um e a outra raramente

são coincidentes, sequer paralelas.

Sempre distantes. Muito

distantes, mesmo. Há excessivo

tempo que o nosso sistema de

ensino está morto para a educação.

Desde o 25 de Abril, talvez.

Desde o tempo, pelo menos,

em que os professores, de forma

progressiva, foram perdendo autoridade

na sala de aula, foram

perdendo poder na organização

escolar, foram perdendo o direito

à palavra, à sua palavra, foram

convertidos em verdadeiros

burocratas do relatório. Da exposição.

Da ata. Dos concursos.

Da justificação escrita e exaustiva

dos mais inacreditáveis e

míseros acontecimentos letivos.

Como o simples facto de atribuir

uma nota negativa ou marcar

uma falta corretiva. Hoje, o

professor é um verdadeiro amanuense

da vulgaridade. Um escravo

da papelada. Que consome

o tempo não a instruir-se, não a

aprender, não a ensinar, muito

menos a educar. O professor é,

por certo, o elo mais fraco, mais

exposto e menos valorizado da

cadeia educativa. E só num país

muito mal-educado, que despreza

por completo quem transmite

conhecimento às gerações

subsequentes, é que aparecem

amiúde os tais fenómenos relâmpago,

medíocres, que podem

derivar em ministros ou

até mesmo em primeiros-ministros.

A educação está extinta na

escola, já se disse, e agora está

na altura de acabar com o ensino.

O “pacote” revolucionário

que Nuno Crato quer imprimir

ao parque escolar português

é a guia de marcha para o descalabro.

A criação de turmas com

30 alunos, a fusão de escolas em

agrupamentos despropositados

e inviáveis, a extinção de cursos

profissionais, a desvalorização

do acompanhamento de alunos

com necessidades especiais,

vai acabar de vez com a Escola.

Vai acabar de vez com a carreira

docente com decência. E manda

para o olho da rua dezenas de

milhar desses seres execráveis e

desnecessários que são os professores.

Principalmente aqueles

que estão no patamar do espezinhanço:

os contratados.

Ainda que estes, em muitos casos,

tenham aturado todas estas

trapalhadas durante mais de

uma dezena de anos. É necessário

ter estômago para ser professor

num país onde já nem sequer

o fado induca, nem o vinho instrói.

Quanto mais a Escola.

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