sábado, 18 de agosto de 2012

Diário do Alentejo Edição 1582


Editorial
Polegares
Paulo Barriga
Escrever com os polegares
é como escrever
com os pés. Dizia um
delicioso inteletual pátrio sobre
o advento das SMS e das
restantes escritas produzidas
nos aparelhos de telemóvel.
Penso que a repulsa tinha
muito mais a ver com os conteúdos
grafados, com as abreviaturas,
com a invenção, afinal,
de uma nova escrita. Imediata.
Agramatical. Simplesmente
utilitária. E despojada de toda
e qualquer religiosidade literária.
Porque escrever com os
polegares, por si só, não revela
qualquer ação criminal,
deplorável, de lesa Língua. É
apenas um recurso pouco natural,
parvo, desajeitado de
comunicar. Mas também um
grande desenrascanço. Tal
como agora, neste preciso instante,
me acontece. Não se vislumbram
computadores nem
Internet nas falésias mais próximas.
E a solução para este
texto chegar a tempo e horas
às páginas do jornal foi esta:
amacacar este conjunto de palavras,
marteladas letra a letra
com o “pai de todos”, no raio
das miseravelmente minúsculas
teclas do telemóvel. Quanto
ao conteúdo... Bom essa é outra
história. Parte gorda do artigo
já se foi com a polegarização
da escrita. A estação parva
do jornalismo no seu melhor,
dirão os leitores mais apressados.
Talvez com razão. O resto
do texto estava previsto para
qualquer coisa que tivesse a ver
com férias. Com a Zambujeira
do Mar, que por cá me vai
tendo ano após ano. Com o verão.
Ou com as coisas que apenas
ao verão são dadas. Como
por exemplo... A arqueologia.
Essa ciência exata da ilusão do
passado. Essa aventura essencialmente
de veraneio que nos
ajuda a aclarar os nebulosos
invernos da História. Esse bem
cada vez mais raro e escasso
que nos ajuda a descobrir a nós
próprios. Como agora acontece
nas cercanias de Reguengos,
na praça central de Beja. Ou na
alcáçova do castelo de Moura.
Esta edição do “DA” fala nisso.
Sem ser com os polegares.


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