Editorial
Acontecer
Paulo Barriga
Mais de um milhão de euros
depois do que seria
lógico e aceitável, a
Empresa de Desenvolvimento do
Aeroporto de Beja (EDAB) vai ser
extinta. Por fim e ao fim de um
sem-fim de adiamentos. A EDAB
surgiu para implementar na periferia
da Base Aérea de Beja um aeroporto.
Uma das mais tresloucadas
ideias de que há memória na inaudita
história do Baixo Alentejo. Um
aeroporto novinho em folha, construído
a tempo e horas, sem grandes
derrapagens orçamentais e sem
qualquer tipo de planificação futura,
rumo, rota ou seja lá o que for.
A EDAB construiu um aeroporto e
pronto. Está feito o dito. Enquanto
empresa de obras públicas, e apenas
nesse patamar, o trabalho desenvolvido
pela EDAB foi notório.
Entre recuos e avanços, mas sempre
debaixo de grande demagogia
e de muito ilusionismo por parte do
acionista Estado, concluiu-se o aeroporto
que, na verdade, ninguém
queria. A não ser o bom povo. Que,
mais uma vez embusteado, acreditou
que desta é que seria de vez.
Desta é que as asas do desenvolvimento
sobrevoariam a região.
Enquanto isso, os grandes investimentos
aeronáuticos financiados
pelo Governo estavam a ser marotamente
aninhados em Évora. Bom,
mas agora chegou ao fim o folhetim
da EDAB. Dentro de um mês a
empresa desaparece, o Estado devolve
o valor do investimento inicial
aos pequenos acionistas (Ambaal
e Nerbe) e trata das rescisões com
os trabalhadores que ainda subsistem
na empresa. Entretanto, esgota-
se por estes dias o prazo dado
pelo Governo a um grupo de trabalho
que se propôs estudar a viabilidade
do aeroporto de Beja. Não
é necessário fazer grande futurologia
para adiantar as grandes linhas
de ação que sairão de tal relatório.
É necessário que indústrias ligadas
à aeronáutica se instalem em Beja,
que haja formação no setor nas diferentes
escolas profissionais e politécnicas
da região, que se convençam
companhias de aviação a voar
para Beja. Carregando pessoas ou
mercadorias lá dentro. Afinal, estamos
a falar de um aeroporto. E é
isso mesmo que se faz num aeroporto:
amanhar aviões, estacionar
aviões, receber mercadorias e gente
que vem dentro dos aviões. A questão
é saber que gente e que carga estará
disponível para ser despejada
numa região economicamente moribunda,
desprovida de parque hoteleiro,
sem estratégia turística, despojada
de vias de transporte, viárias
ou ferroviárias, rápidas e seguras
e condignas. O aeroporto foi a melhor
coisa que aconteceu à região de
Beja nos últimos anos. Falta apenas
que a própria região de Beja aconteça
nos próximos anos. Falta quase
tudo, portanto. Só não nos falta um
aeroporto. O que já não é nada mau.
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