sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1585



Editorial


Acontecer

Paulo Barriga

Mais de um milhão de euros

depois do que seria

lógico e aceitável, a

Empresa de Desenvolvimento do

Aeroporto de Beja (EDAB) vai ser

extinta. Por fim e ao fim de um

sem-fim de adiamentos. A EDAB

surgiu para implementar na periferia

da Base Aérea de Beja um aeroporto.

Uma das mais tresloucadas

ideias de que há memória na inaudita

história do Baixo Alentejo. Um

aeroporto novinho em folha, construído

a tempo e horas, sem grandes

derrapagens orçamentais e sem

qualquer tipo de planificação futura,

rumo, rota ou seja lá o que for.

A EDAB construiu um aeroporto e

pronto. Está feito o dito. Enquanto

empresa de obras públicas, e apenas

nesse patamar, o trabalho desenvolvido

pela EDAB foi notório.

Entre recuos e avanços, mas sempre

debaixo de grande demagogia

e de muito ilusionismo por parte do

acionista Estado, concluiu-se o aeroporto

que, na verdade, ninguém

queria. A não ser o bom povo. Que,

mais uma vez embusteado, acreditou

que desta é que seria de vez.

Desta é que as asas do desenvolvimento

sobrevoariam a região.

Enquanto isso, os grandes investimentos

aeronáuticos financiados

pelo Governo estavam a ser marotamente

aninhados em Évora. Bom,

mas agora chegou ao fim o folhetim

da EDAB. Dentro de um mês a

empresa desaparece, o Estado devolve

o valor do investimento inicial

aos pequenos acionistas (Ambaal

e Nerbe) e trata das rescisões com

os trabalhadores que ainda subsistem

na empresa. Entretanto, esgota-

se por estes dias o prazo dado

pelo Governo a um grupo de trabalho

que se propôs estudar a viabilidade

do aeroporto de Beja. Não

é necessário fazer grande futurologia

para adiantar as grandes linhas

de ação que sairão de tal relatório.

É necessário que indústrias ligadas

à aeronáutica se instalem em Beja,

que haja formação no setor nas diferentes

escolas profissionais e politécnicas

da região, que se convençam

companhias de aviação a voar

para Beja. Carregando pessoas ou

mercadorias lá dentro. Afinal, estamos

a falar de um aeroporto. E é

isso mesmo que se faz num aeroporto:

amanhar aviões, estacionar

aviões, receber mercadorias e gente

que vem dentro dos aviões. A questão

é saber que gente e que carga estará

disponível para ser despejada

numa região economicamente moribunda,

desprovida de parque hoteleiro,

sem estratégia turística, despojada

de vias de transporte, viárias

ou ferroviárias, rápidas e seguras

e condignas. O aeroporto foi a melhor

coisa que aconteceu à região de

Beja nos últimos anos. Falta apenas

que a própria região de Beja aconteça

nos próximos anos. Falta quase

tudo, portanto. Só não nos falta um

aeroporto. O que já não é nada mau.

Sem comentários: