quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1590



do Alentejo


12 outubro 2012

Editorial

Aldeias

Paulo Barriga

Há já largos meses que o

“Diário do Alentejo” se

aventurou numa verdadeira

demanda pelas aldeias da

região. Avançámos com o propósito

primeiro de assinalar o Ano

Europeu do Envelhecimento Ativo

e da Solidariedade entre Gerações,

que este ano se celebra. Ainda esta

semana proporcionamos aos nossos

leitores uma visita a São Miguel

do Pinheiro, Mértola. A terra onde

nasceu e foi batizado António

Raposo Tavares. O Bandeirante.

E o que fomos nós lá encontrar?

Precisamente o mesmo que descobrimos

um pouco por todas

os pequenos povoados rurais do

Alentejo: uma população envelhecida,

entregue ao seu próprio destino,

abandonada, sem grandes

perspetivas futuras. Em Lisboa –

ou mesmo em Beja – não será difícil

descobrir quem olhe para estes pequenos

aglomerados de casas obstinadamente

tisnadas de branco e

diga: “isto sim é qualidade de vida”.

Mas essa é uma perigosa e saloia

visão do território, da coesão territorial.

Na qual o pitoresco se sobrepõe

à mingua, o folclórico apaga

os problemas reais das pessoas e

o cante dos passarinhos emudece

o desespero. A não ser que “qualidade

de vida”, para a gente das cidades,

queira dizer isolamento,

solidão, desemprego, falta de assistência

médica, de apoio social, de

uma palavra de ânimo, tão apenas.

A grande riqueza do Alentejo são

as pessoas. A grande riqueza das

aldeias são as pessoas que as habitam.

Os verdadeiros guardiões do

campo são as pessoas que habitam

as aldeias. E quando estas, as pessoas,

estão física, emocional, social

e economicamente moribundas, é

o Alentejo que está agonizante, são

as aldeias e os campos que fenecem.

E é contra essa morte anunciada,

contra esse fatalismo, contra

essa suposta irreversibilidade que

o “DA” irá prosseguir a sua vereda

de aldeia em aldeia. Todas as semanas.

Escutando as pessoas. As suas

queixas e aspirações. Os seus sonhos

e desaires. A sua maneira de

viver e de ver o mundo. Seja em São

Miguel do Pinheiro, em Sobral da

Adiça, na Zambujeira do Mar ou

em Baleizão. Onde ainda esta semana

assaltaram a escola primária.

E de onde levaram leite e iogurtes.

Apenas isso. Esses malandros

que não sabem dar valor à qualidade

de vida.

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