do Alentejo
12 outubro 2012
Editorial
Aldeias
Paulo Barriga
Há já largos meses que o
“Diário do Alentejo” se
aventurou numa verdadeira
demanda pelas aldeias da
região. Avançámos com o propósito
primeiro de assinalar o Ano
Europeu do Envelhecimento Ativo
e da Solidariedade entre Gerações,
que este ano se celebra. Ainda esta
semana proporcionamos aos nossos
leitores uma visita a São Miguel
do Pinheiro, Mértola. A terra onde
nasceu e foi batizado António
Raposo Tavares. O Bandeirante.
E o que fomos nós lá encontrar?
Precisamente o mesmo que descobrimos
um pouco por todas
os pequenos povoados rurais do
Alentejo: uma população envelhecida,
entregue ao seu próprio destino,
abandonada, sem grandes
perspetivas futuras. Em Lisboa –
ou mesmo em Beja – não será difícil
descobrir quem olhe para estes pequenos
aglomerados de casas obstinadamente
tisnadas de branco e
diga: “isto sim é qualidade de vida”.
Mas essa é uma perigosa e saloia
visão do território, da coesão territorial.
Na qual o pitoresco se sobrepõe
à mingua, o folclórico apaga
os problemas reais das pessoas e
o cante dos passarinhos emudece
o desespero. A não ser que “qualidade
de vida”, para a gente das cidades,
queira dizer isolamento,
solidão, desemprego, falta de assistência
médica, de apoio social, de
uma palavra de ânimo, tão apenas.
A grande riqueza do Alentejo são
as pessoas. A grande riqueza das
aldeias são as pessoas que as habitam.
Os verdadeiros guardiões do
campo são as pessoas que habitam
as aldeias. E quando estas, as pessoas,
estão física, emocional, social
e economicamente moribundas, é
o Alentejo que está agonizante, são
as aldeias e os campos que fenecem.
E é contra essa morte anunciada,
contra esse fatalismo, contra
essa suposta irreversibilidade que
o “DA” irá prosseguir a sua vereda
de aldeia em aldeia. Todas as semanas.
Escutando as pessoas. As suas
queixas e aspirações. Os seus sonhos
e desaires. A sua maneira de
viver e de ver o mundo. Seja em São
Miguel do Pinheiro, em Sobral da
Adiça, na Zambujeira do Mar ou
em Baleizão. Onde ainda esta semana
assaltaram a escola primária.
E de onde levaram leite e iogurtes.
Apenas isso. Esses malandros
que não sabem dar valor à qualidade
de vida.
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