quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1591

Editorial


À deriva

Paulo Barriga

O PSD e o CDS, na sua incansável

e persistente

empreitada de deitar

abaixo o edifício do Estado, fizeram

aprovar na Assembleia

da República a Lei 22/2012. Não,

estimado leitor, não se trata de

qualquer tipo de iniciativa que

vá ao bolso do povo, como é costume,

ou que tenha reflexo nas

contas públicas. Trata-se da chamada

reorganização administrativa

territorial autárquica. O

tal diploma que, até ao final do

ano, pretende extinguir cerca de

um milhar de freguesias portuguesas.

Não fosse tão séria e desonesta

e obscena, esta lei até

poderia ser motivo para galhofa,

palhaceira que ela é na sua essência.

Num qualquer gabinete

de Lisboa, meia dúzia de tecnocratas

iluminados andam neste

momento de regra e esquadro

na mão a reinventar o mapa de

Portugal. Cortando aqui, juntando

acolá, sem terem qualquer

tipo de sentimento de solidariedade

ou de justiça, principalmente

em relação às freguesias

do interior. Pensarão eles, se é

que se pode chamar “pensar”

ao atentado que estão a cometer,

que as freguesias de Santo

Aleixo da Restauração ou de

Gomes Aires são entidades supérfluas

e dispendiosas. De salientar,

em primeiro, que mais

esta medida que a troika impôs

ao País, para além de parva,

implica apenas 0,1 por cento

do Orçamento de Estado. Uma

verba tão insignificativa que

só em certas mentes perversas

paga ou justifica o abandono,

o empobrecimento e o desconsolo

que trará às freguesias rurais

a extinguir. Já de si pobres,

desconsoladas e abandonadas.

Agrupar duas ou mesmo três

freguesias nas grandes cidades

até pode ser uma medida aceitável.

Mas fulminar freguesias

em locais envelhecidos, onde as

pessoas não têm meios financeiros,

nem saúde, nem transportes

para se deslocarem é um crime

hediondo. Isto sem contar com o

papel fundamental que estas entidades

desempenham ao nível

da assistência social de proximidade,

ao nível da resolução dos

problemas imediatos das populações,

ao nível da humanização

das relações de vizinhança.

Primeiro fecharam os postos da

GNR, depois fecharam as escolas

primárias, hoje fecham as

juntas de freguesia… Amanhã

fecham as próprias aldeias. E

Portugal, cada vez mais concêntrico,

litoralizado, prosseguirá

à deriva rumo ao abismo. Isto

se nós não tomarmos conta do

leme ou não colocarmos o arrais

na linha, claro.

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