quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1592

 
 
Editoria


Feiras
Paulo Barriga

Quando se fala em feiras,
no Baixo Alentejo, no
tempo das feiras, fala-se
na Feira de Castro e na Feira de
Alvito. A maior parte das restantes
localidades, começando por
Beja, optaram por deixar cair as
feiras tradicionais e apostaram
fortemente na especialização, na
tematização, na pormenorização.
A Ovibeja terá sido a matriz
para o ressurgimento das feiras,
das novas feiras, um pouco por
todo o território. Um modelo atualizado,
dinâmico, quase assético,
que reconciliou as pessoas com as
suas feiras. E é nesse reencontro,
nessa criação de novos centros de
partilha, modernos e organizados,
que reside o principal mérito deste
tipo de eventos. Porque as feiras,
velhas ou novas, tradicionais ou
especializadas, são sempre momentos
fundamentais para a vida
coletiva de uma comunidade. Mas
quando se fala em feiras, no Baixo
Alentejo, no tempo das feiras, fala -
-se na Feira de Castro e na Feira de
Alvito. A de Castro aconteceu no
último fim de semana. A de Alvito
está agendada para o Dia de Todos
os Santos. Têm em comum uma
certa marginalidade, uma certa
anarquia, uma certa personalidade
que nos faz parar no tempo.
E nos faz olhar para as coisas da
terra e para as pessoas com caráter
de urgência. É nestas duas feiras
que ainda escorre a seiva da
comunhão, o aconchego da partilha,
a ânsia do reencontro. Aqui
nada é combinado, nada é suscetível
de agendar ou predefinir. As
feiras, estas, acontecem por si e em
si. São entidades vivas e imprevisíveis
como qualquer bicho selvagem.
Se hoje em dia queremos
encontrar o largo que Manuel da
Fonseca tão engenhosamente definiu
na sua obra temos que mergulhar,
ao acaso, nos terreiros de
Castro e de Alvito (é verdade que
aqui , em Alvito, a autarquia tentou
“domar” a feira, mas o seu espírito
manteve-se indomesticável).
A feira é a rua, a algazarra, o
acaso, o improviso. O comércio é
apenas um pretexto. Tanto maior,
o pretexto, quanto mais recheadas
forem para lá as carteiras. Este
é o tempo das feiras. O tempo que
medeia entre a Feira de Castro e a
Feira de Alvito. O tempo em que
se começa a olhar ao tempo. Em
que se encerra o verão e as colheitas.
Em definitivo. Onde as chuvas
aparecem pela gaita do amola-tesouras.
Onde as romãs mostram
toda a sua exuberância. Onde os
figos secos se abrem ao miolo das
nozes e das amêndoas. Onde o vinho
ganha força e boas cores nas
talhas de barro. Onde as azeitonas
gritam para ser colhidas. Onde
a natureza se regenera. E as pessoas
também. Ainda que num rijo
abraço. Ou num simples “até para
o ano”.




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