Editorial
Semana
Paulo Barriga
Quanta vida cabe numa
semana apenas? Tanta
vida cabe. Esta foi uma
semana de muita vida. Ou de
muita morte. Sendo que a morte é
a única certeza que assiste à vida.
Esta foi a semana em que a nossa
principal credora, ao melhor jeito
do cobrador do fraque, nos veio
bater à porta de mão alongada.
E nós, o nosso primeiro-ministro,
estendemos-lhe a nossa mais
fina passadeira vermelha. Tesos,
mas exuberantes, como costumamos
e gostamos de ser. A receção
a Angela Merkel foi no terraço
do forte de S. Julião da Barra.
Mas a única imagem que me acudiu
nesta segunda-feira foi a do
terraço do forte vizinho de Santo
António, no Estoril. Onde Salazar
caiu da cadeira. Ideias, apenas
isso, no preciso dia em que Vale
e Azevedo voltou para o xadrez.
Sozinho. Embora conheçamos
tanta gravata que lhe ficava bem
por companhia. Talvez algumas
das gravatas dos que se lembraram
de ampliar, em Beja, desnecessariamente,
contra a vontade
da própria instituição, uma escola
que nem alunos tem. Foi também
na vida longa desta semana que
o secretário Carlos Moedas inaugurou
a nossa mais recente anedota,
de um anedotário regional
que parece não ter fim. Cristas, a
ministra, também por cá se passeou.
Gosta tanto de cá vir que até
já apanhou alguns dos nossos tiques
antigos. Não tarda, temos em
marcha uma nova reforma agrária
à maneira do CDS. Isto no dia
em que Pulido Valente, muito discretamente,
foi anunciado como
candidato do PS à “refundação”
da Câmara de Beja. Isto nas vésperas
da greve geral que parou um
país parado, deprimido, despedaçado,
desesperançado. Isto na semana
em que o País parado acordou
para a violenta e demagógica
restruturação do mapa de freguesias.
Tudo isto numa semana repleta
de vida num país parado à
beira do seu próprio cadafalso. Da
sua própria morte. A um simples
passo de sentir o vibrar da corda
grossa que lhe adorna o pescoço.
Mas tudo isto numa semana em
que a esperança se traduziu numa
breve aula aberta para os alunos da
Escola Profissional de Cuba. Uma
lição de vida, essa sim, ministrada
por Rui Nabeiro (Delta Cafés) e
António Silvestre Ferreira (Vale
da Rosa). Uma preleção sobre empreendedorismo
onde a vida, a experiência
de vida, se sobrepôs ao
desânimo e ao imobilismo. Num
País, como diria Nabeiro, onde
as coisas acontecem sempre tarde
demais, “quando os outros decidiam
ir, já eu vinha de regresso”.
É a homens destes que temos de
perguntar quanta vida cabe numa
Sem comentários:
Enviar um comentário