sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1595

 
Editorial


Semana
Paulo Barriga



Quanta vida cabe numa
semana apenas? Tanta
vida cabe. Esta foi uma
semana de muita vida. Ou de
muita morte. Sendo que a morte é
a única certeza que assiste à vida.
Esta foi a semana em que a nossa
principal credora, ao melhor jeito
do cobrador do fraque, nos veio
bater à porta de mão alongada.
E nós, o nosso primeiro-ministro,
estendemos-lhe a nossa mais
fina passadeira vermelha. Tesos,
mas exuberantes, como costumamos
e gostamos de ser. A receção
a Angela Merkel foi no terraço
do forte de S. Julião da Barra.
Mas a única imagem que me acudiu
nesta segunda-feira foi a do
terraço do forte vizinho de Santo
António, no Estoril. Onde Salazar
caiu da cadeira. Ideias, apenas
isso, no preciso dia em que Vale
e Azevedo voltou para o xadrez.
Sozinho. Embora conheçamos
tanta gravata que lhe ficava bem
por companhia. Talvez algumas
das gravatas dos que se lembraram
de ampliar, em Beja, desnecessariamente,
contra a vontade
da própria instituição, uma escola
que nem alunos tem. Foi também
na vida longa desta semana que
o secretário Carlos Moedas inaugurou
a nossa mais recente anedota,
de um anedotário regional
que parece não ter fim. Cristas, a
ministra, também por cá se passeou.
Gosta tanto de cá vir que até
já apanhou alguns dos nossos tiques
antigos. Não tarda, temos em
marcha uma nova reforma agrária
à maneira do CDS. Isto no dia
em que Pulido Valente, muito discretamente,
foi anunciado como
candidato do PS à “refundação”
da Câmara de Beja. Isto nas vésperas
da greve geral que parou um
país parado, deprimido, despedaçado,
desesperançado. Isto na semana
em que o País parado acordou
para a violenta e demagógica
restruturação do mapa de freguesias.
Tudo isto numa semana repleta
de vida num país parado à
beira do seu próprio cadafalso. Da
sua própria morte. A um simples
passo de sentir o vibrar da corda
grossa que lhe adorna o pescoço.
Mas tudo isto numa semana em
que a esperança se traduziu numa
breve aula aberta para os alunos da
Escola Profissional de Cuba. Uma
lição de vida, essa sim, ministrada
por Rui Nabeiro (Delta Cafés) e
António Silvestre Ferreira (Vale
da Rosa). Uma preleção sobre empreendedorismo
onde a vida, a experiência
de vida, se sobrepôs ao
desânimo e ao imobilismo. Num
País, como diria Nabeiro, onde
as coisas acontecem sempre tarde
demais, “quando os outros decidiam
ir, já eu vinha de regresso”.
É a homens destes que temos de
perguntar quanta vida cabe numa
semana apenas.




 


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