quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1596


Editorial
Jornalistas
Paulo Barriga

Escrevo estas palavras
com tristeza e sem uma
pontinha sequer de júbilo:
o “Diário do Alentejo” é
dos raros jornais em toda a região
que ainda mantém uma redação
ativa, dinâmica e plural.
Entendendo redação como aquele
lugar único onde os jornalistas,
em equipa, discutem a atualidade,
separam o lombo informativo
das gorduras dos dias, transformam
em bifes noticiosos os
acontecimentos com mais sabor
e melhores nutrientes. A redação
é isso mesmo: uma sala de desmancha
da inconsumível carcaça
noticiosa que, posteriormente, é
colocada nas vitrinas dos jornais,
das rádios, das televisões, pronta
a consumir. O jornalista é o talhante
do acontecimento. E o seu
cutelo afina apenas pela pedra de
esmeril que resulta do seu compromisso
ético e deontológico
para consigo próprio e, essencialmente,
para com os seus leitores,
ouvintes, telespetadores. E é esta
e apenas esta a única forma de
aferir a qualidade do jornalista e
dos produtos que serve: a manutenção
imaculada e absoluta da
relação de confiança que estabelece
com os seus interlocutores.
A montante e a jusante da notícia.
E por isso escrevo com palavras
desconsoladas que o “DA”
terá das poucas, talvez a última,
redação em todo o Alentejo. Que
é a menos brutal das maneiras
de dizer que a comunicação social
atravessa uma crise sem precedentes
na nossa região. Muitos
órgãos locais e regionais fecharam
nos últimos tempos, outros
estão em vias de encerrar, outros
diminuíram drasticamente as tiragens
e as edições, outros, em
desespero de subsistência, fazem
os jornalistas derrapar nas areias
movediças da publicidade, da lavagem
política, da promiscuidade.
A juntar a tudo isto, outra
desgraça: os órgãos de comunicação
social de matriz nacional,
públicos e privados, estão a desinvestir
fortemente no Alentejo.
O que nos deixa em plena antecâmara
da orfandade noticiosa.
Uma região sem uma comunicação
social forte, dinâmica, livre,
independente, isenta, é uma
região doente e enfraquecida do
ponto de vista social, cultural
e, claro, económico. As notícias
são a proteína, a boa proteína, de
toda e qualquer sociedade, principalmente
nas comunidades de
vizinhança, num mundo globalizado.
É na comunicação de proximidade
que irrompe o direito
à diferença. É aqui que nos reconhecemos
uns aos outros. Que
nos relacionamos uns com os outros.
Que a nossa voz se faz ouvir
com mais estrondo. E isso os jornalistas
do Alentejo sempre perceberam.
E você?

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