quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1598


Editorial
Entrevistas
Paulo Barriga
A entrevista transcrita é
dos géneros mais complexos
e delicados do
jornalismo impresso. Da simplicidade
do processo (o registo
gravado das palavras do entrevistado)
à conversão da voz em
palavras escritas vai um passo
colossal. Pelo meio, por razões de
vício na expressão oral, caem milhares
de partículas informativas.
E, muitas vezes, por razão de
carência de espaço físico, pode ficar
pelo caminho outro sem-número
de “pormenores” significantes.
A entrevista de imprensa
é, por certo, o mais ingrato dos
exercícios da prática jornalística.
Esta semana, o “Diário do
Alentejo” publica cinco entrevistas
diferentes. Uma delas, longa.
Escutámos em Bruxelas Maria
da Graça Carvalho. Numa conversa
onde a eurodeputada bejense
nos alerta para a urgência
de criar um plano de desenvolvimento
para o Alentejo. Para que
saibamos o que nos falta, com o
que contamos e para onde queremos
ir. Mas diz também que nem
ela, nem a União Europeia, percebem
por que carga de água foi parar
o investimento da Embraer a
Évora, quando Beja já tinha um
aeroporto concluído. Ninguém
percebe, aliás, patavina sobre este
aeroporto. Outra entrevista: na
passada semana falámos com o
diretor do aeroporto. Pedro Beja
Neves foi perentório a afirmar
que o aeroporto de Beja seria integrado
no pacote de privatização
da ANA. Mais, o Governo criou
um grupo de trabalho para estudar
os melhores mecanismos para
desenvolver o aeroporto civil de
Beja. Esta equipa deixou claro que
a infraestrutura aeroportuária bejense
deveria integrar o caderno de
encargos de privatização da ANA.
Certo é que, por vícios de expressão
ou por falta de espaço, como
por vezes acontece nas entrevistas,
a Presidência do Conselho de
Ministros esqueceu-se de incluir
o aeroporto, este que aqui plantaram
em Beja, no dito caderno de
encargos. Onde o interesse nacional
se fica pelo “desenvolvimento
dos aeroportos de Lisboa, Porto,
Faro e das regiões Autónomas”.
Outra entrevista: Em outubro último,
dizia ao “DA” o secretário de
Estado Carlos Moedas que o aeroporto
de Beja devia ser olhado
como parte de um todo nacional e
que “o Governo terá isso em consideração
no âmbito do processo
de privatização da ANA que está
em curso”. A entrevista transcrita
é dos géneros mais frágeis
do jornalismo impresso. As palavras
parece que não gostam de ficar
agarradas ao papel. Para sempre.
Muitas vezes parecem vermes
contorcidos. Em permanente metamorfose.
Apenas estão bem
onde não estão. Apenas são o que
não são.

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