quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Diário do Alentejo Edição 1601


Editorial
Rua
Paulo Barriga

Está a chegar ao fim o ano
mais longo e demorado a
passar dos últimos tempos.
2012. O ano que rendeu por uma
década inteira. Ou mais. Nem vale
a pena tentar corrê-lo em revista
nesta estreita tira de papel de fundo
cinza. Aliás, nem todo este jornal
teria capacidade, em abono da verdade,
para lhe fazer condigna justiça,
ao ano de 2012. Mas, numa
síntese muito arriscada e abaladiça,
talvez não fosse despropositado
sublinhar as três palavras
chave de 2012: rua, dignidade,
crise. Na verdade, e muito resumidamente,
2012 foi o ano da rua. Foi
o ano em que a rua voltou a ganhar
o estatuto de tribuna, de fórum, de
largo da aldeia. Onde todos os poderes
se confrontaram. Onde a palavra
de cada um se transformou
na voz de muitos. A vida pública
caiu, por fim, na rua. E na rua as
pessoas ganharam consciência política,
cívica, social. Impelidas pela
urgência, as pessoas saíram à rua
e a rua mostrou-lhes qual era a sua
verdadeira condição. Que, em muitos
casos, não andaria muito além
dos limites mínimos exigidos à
dignidade humana. Dignidade.
Cá está outra das palavras que sumariza
2012. Dignidade ou a falta
dela. 2012 foi o ano em que as pessoas
foram aliviadas de tudo o
que dignamente se construiu em
nome do bem comum nas últimas
décadas. Trabalho. Dignidade.
Educação. Dignidade. Saúde.
Dignidade. Casa. Dignidade. Tudo
ou quase tudo. Porque o resto de
quase tudo está impresso a letras
gordas e sublinhado a vermelho
numa agenda/memorando para
2013. É a crise. A palavra mais grafada
em todos os motores de busca
do planeta, logo a seguir à palavra
sexo, mas com efeito mais prolongado
e muito menos estimulante.
O mundo está em crise, a Europa
está em crise, Portugal está em
crise. Em todo o mundo se procuram
e punem os responsáveis pela
maldita crise. Menos no país do
outro mundo em que vivemos. É
tudo uma questão de dignidade.
Ou de falta dela. E talvez por isso
as pessoas saiam à rua, agora, urgentemente,
em sua busca. Que em
Portugal as pessoas na rua com ela
se reencontrem, com a dignidade,
são os votos do “DA” para 2013.

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