quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1603


Editorial
Reportagem
Paulo Barriga

A SIC passou no domingo
uma reportagem que os
bejenses estão a classificar
como extraordinariamente
ofensiva ao seu bom nome. E um
exemplo acabado de mau jornalismo.
Ou seja: nem a forma
nem o conteúdo lhes agradou
no filme que o jornalista Pedro
Mourinho elaborou sobre as supostas
“obras faraónicas” que se
têm levantado em Beja. A reportagem
é o género maior da prática
jornalista. É o poema épico,
é a obra-prima, é a pradaria do
jornalismo. É na reportagem, na
boa reportagem, que as regras
não têm regra. Que os géneros se
misturam sem qualquer tipo de
constrangimento. Que os factos
se associam livremente às sensações
recolhidas pelo próprio repórter.
É na reportagem, na boa
reportagem, que a escrita jornalística
ganha a vida que as normas,
os códigos de conduta e a
severidade usualmente lhe retiram.
Deste prisma, do lado da
forma, a reportagem de Pedro
Mourinho é uma bela reportagem.
Dinâmica, participativa,
algo irónica, a roçar o documentário,
criativa, inovadora no formato.
De onde emerge, então, a
irritação dos bejenses? Muito
simples: do preconceito. Não do
preconceito deles, dos bejenses.
Mas do preconceito do jornalista
em relação à sua matéria. Pedro
Mourinho cometeu um dos erros
mais comuns ao jornalismo
estagiário. Foi para o terreno em
busca de justificações para a sua
tese – a de que em Beja se gasta
dinheiro mal gasto em obras da
treta – em vez de ter vindo para
o terreno em busca da sua própria
tese. E esse é, por ventura, o
grande fundamento da própria
reportagem: contornar o imprevisto
com o improviso. Ao contrário,
Mourinho emprenhou
pelos ouvidos. E preferiu defender
até ao final, a todo o custo,
pateticamente, a ideia preconcebida
que alguém em Lisboa lhe
vendeu como boa. E isso fez dele
um mau repórter. Porque não
teve perspicácia para olhar para
lá do objeto, não se deixou contagiar
pela sua própria intuição,
não teve talento para encontrar
os protagonistas certos para consolidar
a sua história, não teve
humildade suficiente para corrigir
a rota em pleno voo. É pena
que assim tenha sido. Porque
com o investimento financeiro
que a SIC fez na reportagem de
Pedro Mourinho, os telespetadores
mereciam muito mais do
que uma boa (ou bonita) má reportagem.
Principalmente os de
Beja, que com ele andam zangados.
Por estes dias.

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