quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1606


Editorial
Fraturantes

Paulo Barriga

Não estamos habituados
a isto. Não precisamos
disto. Não gostamos
disto. E, acima de tudo, não
queremos isto. Beja, a cidade
e o distrito, nunca interessou
a ninguém nem para coisa nenhuma.
Depois do 25 de Abril,
excluídos os calores da Reforma
Agrária e, agora, os refrescos
do Alqueva, Beja foi largada ao
abandono. Foi esquecida pelos
sucessivos governos. Pelas televisões.
Pelas outras pessoas que
habitam o País mais em cima e
mais em baixo. Ficou parada no
tempo. Passou ao lado da euforia
chocalheira do novo-riquismo
da viragem do milénio.
Decresceu em termos populacionais,
em termos de criação de
riqueza, em termos de emprego,
em termos de esperança. Beja,
a cidade e a região, não gera votos.
Não é fabricante de proveitos,
conveniências ou benefícios
para a classe política. Logo,
Beja não existe. Não é assunto.
Não dá notícia. Ou melhor, não
dava. Em 15 dias, nos últimos
15 dias, Beja instalou -se no centro
do debate nacional. Beja passou
a ser o vórtice da discussão.
Transformou-se no grande bateboca
nacional, produzindo, a
cada instante, temas interessantes,
fraturantes, suculentos para
grande deleite do País voyeur.
Quis-se falar do dinheiro que o
Estado andou durante décadas a
gastar mal e porcamente e conseguiram-
se descobrir elefantes
brancos em Beja. Notável.
Um cão de raça perigosa mata
um bebé e Beja passa a ser, afinal,
a capital dos direitos dos
animais. Impressionante. Em
contrapartida, um tipo baleia
a mulher e o filho e é Beja que
repõe a pena de morte na ordem
do dia. Comovente. Três
miúdas vão parar à urgência
e um rapaz é atropelado mortalmente
depois de, supostamente,
consumirem drogas sintéticas
legais e Beja passa a ser
a grande bandeira pela legalização
total do chamon. Brilhante.
Não estamos habituados a isto.
E, acima de tudo, não queremos
isto. Antes sós, novamente
e para sempre, do que fraturantemente
mal acompanhados.

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