quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1610


Editorial
Básico
Paulo Barriga

A grande maioria dos alunos
que no ano passado
frequentou o 9.º ano de
escolaridade chumbou em seis
dos sete testes intermédios inventados
pelo Ministério da
Educação. Segundo o Gabinete
de Avaliação Educacional, a hecatombe
repetiu-se nos testes
apresentados aos alunos do ensino
secundário. Ou seja: o ensino
básico e secundário caíram
de podre em Portugal. As consequências
deste verdadeiro desastre
escolar são fáceis de adivinhar:
estamos a preparar uma
geração pouco conhecedora,
nada interessada, escassa de
imaginação e criatividade, desqualificada,
desmotivada e incapaz
de futuramente se impor
no mercado aberto de trabalho.
Seria muito difícil encontrar
pior notícia que esta no estado
em que o País se acha, a
contas com os vícios do passado,
refém das feras do presente, sebastianicamente
sonhador com
novos amanhãs que cantam.
E que talvez não cantem lá tão
bem afinados quanto isso. Mas
se as consequências são previsíveis,
já as causas desta verdadeira
desgraça nacional são óbvias.
Cá está o primeiro reflexo,
muito sério reflexo e não financeiro,
não económico e não apenas
social, das políticas de austeridade
que sobre nós se abatem.
Não vale a pena varrer a poeira
para debaixo do tapete, fazendo
crer que a educação começa em
casa, que os meninos andam
à vara larga ou que os professores
são mal formados. Este
chumbo generalizado dos alunos
que frequentam o básico e o
secundário é o chumbo generalizado
das políticas de educação
implementadas por este e pelos
anteriores governos da nação.
Principalmente no que concerne
ao atentado terrorista que os nossos
governantes têm movido aos
profissionais da educação nos
últimos anos. Desacreditando-os.
Desmotivando-os. Amesquinhando-
os em concursos de roda livre.
Burocratizando-os. Vedando -
-lhes a progressão na carreira.
Avaliando-os de forma batoteira.
Desestabilizando-os com contratos
precários. Descartando-os.
Enchendo-lhes as salas de alunos.
Aumentando-lhes a carga
horária. E, agora, despedindo -
-os em massa. Ora cá está, portanto,
o resultado dos tão apetecidos
cortes nas funções sociais
do Estado: não empenhamos
apenas o presente, vendemos ao
desbarato o nosso próprio futuro
coletivo. É básico, não é?

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