quinta-feira, 7 de março de 2013

Diário do Alentejo Edição 1611


Editorial

Matemática

Paulo Barriga


Há um certo país onde o

ensino da matemática

é uma verdadeira desgraça.

Na verdade, nesse certo

país, o ensino é uma desgraça.

Embora a matemática seja a desgraça

maior entre todas as desgraças

do ensino. Qualquer pessoa

com juízo e um palmo de

testa aconselharia a gente desse

país a duas coisas: uma para o

entretanto e outra para o futuro.

Para o futuro, investir claramente

na aprendizagem. Para

o entretanto, ter algum tento

nos números. Mas não. Num

certo país onde a matemática

nem é lógica, nem é abstração,

nem é rigor, trocaram-se os valores

humanos, pela inclemência

dos números. Claro que tremenda

operação não dá (nunca

dá) resto zero. Nem pode. A matemática

é um jogo de precisão.

Que é ganho por quem lhe conhece

as regras. E nesse certo

país ninguém parece conhecer

as regras do jogo da matemática.

A matemática pode exercitar

números imaginários, mas não

suporta números imaginados,

como acontece com as contas

sempre rasuradas dos orçamentos

governamentais. A matemática

pode primitivar uma função,

mas não se compadece com

as derrapagens primitivas que

sempre acometem as obras públicas.

A matemática até admite

radicais, mas não corrobora

da ganância exponencial

do radicalismo bancário. A matemática

aceita o grupo, o conjunto,

a mole, mas não entende

que a grandeza de uma manifestação

se reduza ao próprio número

ou que o desemprego seja

apenas uma mera percentagem.

A matemática propõe-se resolver

problemas, mas neste certo

país onde a matemática é uma

desgraça o problema é o país em

si. Um problema cuja resolução

tende sistematicamente para o

infinitamente grande. Esta semana

a Unesco lançou o Ano

Internacional da Matemática do

Planeta Terra. A ideia é salvar o

planeta através das insondáveis

e multidisciplinares valências da

matemática. Desde a geofísica à

atmosfera, passando pelos oceanos,

pelas finanças, pela agricultura

ou pela energia. Temo que

neste certo país onde a lógica

que impera tem a ver com tubérculos,

não consigamos entender

o enunciado.

Dedico este editorial a Leonel

Quinta Queimada e a André Santana,

alunos da Escola Secundária D.

Manuel I, em Beja, que brilharam

no Campeonato Nacional de Jogos

Matemáticos.

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