quinta-feira, 14 de março de 2013

Diário do Alentejo Edição 1612


Editorial
Água
Paulo Barriga

Há vários anos a esta
parte que os grandes
pensadores da guerra
preveem que os próximos conflitos
regionais e mundiais decorram
em torno da posse e do
uso da água. O Homem, na sua
esquizofrénica duplicidade de
ser pensante e irracional, ao
mesmo tempo, gosta de fazer
a guerra. Já se fizeram guerras
terríveis pela posse da terra,
por má vizinhança, em nome
de Deus, em nome da raça, pelos
recursos energéticos, por
dá cá aquela palha. Mas as
guerras do futuro serão em
nome da água. Nunca se pensou
que num planeta cuja superfície
é coberta por água em
71 por cento do seu perímetro,
a própria água pudesse vir
a gerar sarilhos dos grandes.
Profundos. Mas vai. A água
para consumo humano e para
as práticas agrícolas é cada vez
mais escassa, mais cara, mais
concorrida. Virá o dia, como
aconteceu com a pimenta do
Oriente, com o ouro das Índias
Ocidentais, com o petróleo do
deserto, em que a água apenas
correrá nas torneiras dos ricos.
Não é à toa que um dos grandes
negócios das potências glaciares
seja já hoje a venda de água
potável aos países de sequeiro.
Não é à toa que os governos estejam
tão interessados em centralizar
a água. Tê-la é poder
vendê-la. Não é à toa que, aqui
tão perto, o Governo da nação
queira manter na sua esfera
a água do Alqueva. Não a
cedendo para gestão aos consumidores.
Aos agricultores.
Aos regantes. Como prevê a
lei. Como acontece em todos
os outros perímetros agrícolas
regados. O lema desta guerra
de proximidade, a História
tem destas ironias, parece já
não ser a terra a quem a trabalha,
mas antes a água a quem
rega. Por mim, que estou farto
da água, declaro apenas guerra
a este inverno. Que parece não
querer acabar nunca.

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