quinta-feira, 11 de abril de 2013

Diário do Alentejo Edição 1616


Editorial
Instalações
Paulo Barriga

As novas freguesias, aquelas
que resultaram da recente
reforma administrativa do
território, apenas serão instaladas
depois das eleições autárquicas do
próximo outono. Melhor dizendo:
os fregueses vão a votos como se
nada de anormal tivesse acontecido
e, depois das eleições, distribuem -
-se os votos consoante os desenhos
parvos que o ministro Relvas fez no
mapa, a seu belo prazer. Melhor dizendo,
de outra forma: as próximas
eleições são assim uma espécie de
casamento de conveniência, onde
o noivo chega ao altar de mãos dadas
com uma estranha de véu caído
sobre os olhos. Enlace que tem
todos os ingredientes para correr
mal. E vai correr mal. Muito mal
mesmo. Ou o Governo, num gesto
de contrição que lhe não é muito
próprio, dá o dito pelo não dito e
adia para próximas núpcias a extinção
das freguesias. Ou vai criar a
maior barafunda de que há memória
na história eleitoral portuguesa.
O Governo, de forma propositada
ou por manifesta incompetência,
extinguiu e aglomerou mais de um
milhar de freguesias sem que tivesse
nomeado as respetivas comissões
instaladoras. Era suposto
serem essas comissões instaladoras
das novas freguesias a preparar
os cadernos eleitorais para as próximas
eleições. E, até lá, arrumar
a casa. Mas como isso não aconteceu,
quem está a preparar as listagens
eleitorais são as antigas juntas.
Como se o caso não fosse já de
si suficientemente esquizofrénico, o
Governo deixou nos braços dos anteriores
eleitos uma perfeita macacada.
Por um lado, o eleitor terá sérias
dificuldades em saber onde e
em quem votar. Por outro, os candidatos
terão redobrado embaraço
em saber onde e como concorrer.
Em situações de agregação de duas
freguesias numa única entidade,
o que fazer com os votos depositados
nas freguesias tradicionais?
Dividem-se? Juntam-se? E se os votos
revelarem opções diferentes?
Haverá duplicação de candidatos?
E de mandatos? E a questão da sede
das novas freguesias? São as que foram
impostas? Os eleitores têm alguma
coisa a dizer a esse respeito?
São demasiadas dúvidas, demasiadas
questões. Às quais as pessoas,
por revolta ou indiferença, poderão
responder por falta de comparência.
E não será mesmo isso o que
eles querem?

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