quinta-feira, 13 de junho de 2013

Diário do Alentejo Edição 1625



Editorial
Elvas
Paulo Barriga

Fez bem, Cavaco Silva, em
organizar as festas do Dia
de Portugal em Elvas. Elvas
é uma cidade única. Bela, mas tímida.
Robusta, mas encantadora.
Surpreendente em cada esquina,
em cada pedaço de pedra, em cada
caiadela. No ano passado, por esta
altura, a Unesco inscreveu as fortificações
de Elvas no caderninho
do Património Mundial. Não precisava.
Elvas já era para todos nós,
para o Alentejo, para Portugal,
Património da Humanidade. E não
apenas no que se refere aos edifícios
da guerra, mas sobretudo ao
simbolismo patriótico desta cidade
nos desígnios da paz. E da independência
nacional. Foi, então, aqui,
em Elvas, que Cavaco Silva falou a
Portugal no Dia de Portugal. Mas
os desempregados de Portugal, os
novos pobres de Portugal, os velhos
de Portugal, os trabalhadores
de Portugal, os aflitos de Portugal
não conseguiram escutar a voz de
Cavaco de Portugal. Porque o verdadeiro
Portugal, o Portugal de
hoje, não desceu com o Presidente
da República ao Alentejo. Em contrapartida,
Cavaco da República falou
aos agricultores. Melhor contando:
falou de agricultura. Disse
que o futuro da nação necessitava
dela, da agricultura. Disse que ela,
a agricultura, era um bom negócio.
Quase disse que no seu tempo
de jovem governante é que ela, a
agricultura, era agricultura. O que
Cavaco da Agricultura não disse foi
que, durante as suas governações, o
País abandonou quase definitivamente
o campo e o mar. Que foi no
seu lindo tempo que se inventaram
as quotas de produção, com prejuízos
e desperdícios vergonhosamente
assassinos. Que foi então que
se engendraram as comparticipações
à não produção e ao set-aside
e ao ócio. Que foi por esses tempos
que escorreu pelo rego da PAC dinheiro
em barda para a compra de
moradias de veraneio e de automóveis
topo de gama. Que foi nos idos
dele, de Cavaco Silva, que a agricultura
portuguesa implodiu e ganhou
má fama. Precisamente por ter havido
agricultores de bom-senso
que então, como hoje, lhe não deram
cavaco é que temos uma agricultura
a despontar nos campos.
Investimentos privados. Fileiras
produtivas. Trabalho. E negócios.
Porque para ele e no tempo dele,
Cavaco agricultor da República de
Portugal, a agricultura resumiase
ao velho
ditado:
mais vale uma mão inchada do
que uma enxada na
mão.

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