Editorial
Palhaços
Paulo Barriga
Este título é meramente
simbólico e desconexo.
Ocasional. Ocorreu, saiba -
-se lá porquê. Qualquer vínculo
com a realidade é pura coincidência.
Não enlaça as altas patentes
do Estado que, porventura, possam
vir a ser mencionadas por
aqui abaixo. É tão respeitoso da
causa pública e da Constituição
da República Portuguesa quanto
o circo que está armado em
Portugal o é. Palhaços, malabaristas,
contorcionistas e demais artistas
de variedades merecem -nos
o mais elevado respeito e consideração.
Ponto final. E tudo o mais
que se disser tem a validade de anteontem.
Que foi quando se escreveu
o título “palhaços”. Dois dias
depois do aufwiedersehen de Vítor
Gaspar. Um dia depois do adieu
de Paulo Portas. No suposto dia do
goodbye de Assunção Cristas e do
hasta la vista de Mota Soares. No
preciso dia em que Passos Coelho
e Cavaco Silva resolveram transformar
o Conselho de Ministros
num museu de cera, uma vez que
as figuras de carne e osso se puseram
em debandada. Ponto final.
Tudo o que aqui se disser, por conseguinte,
é velho e já visto e, certamente,
ultrapassado pela velocidade
dos acontecimentos. Pelo
avolumar das palhaçadas. Pela
aguçar do ridículo. Pela superação
dos limites da irresponsabilidade.
Ponto final. Um Governo que esmifrou
o povo português como
nenhum outro teve a ousadia até
hoje. Um Governo que pulverizou
a economia do País como nenhum
outro o conseguiu até hoje.
Um Governo que alimentou o desemprego
e a instabilidade social
como nenhum outro o alcançou
até hoje. Um Governo que errou
e que errou e que tornou a errar
como nenhum outro até hoje. E
que, mesmo assim, contou com
a paciência, a benevolência e até
com alguma esperança dos portugueses
durante dois anos. Um
Governo que ainda assim se esvai,
de forma cobarde e foleira, em
birrinhas internas só pode estar a
mangar com o povinho. Ponto final.
Os ratos são sempre os primeiros
a abandonar a barcaça.
Mas apenas se retiram quando
percebem que ela vai mesmo ao
fundo. Ponto final, no Governo.
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