quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Diário do Alentejo Edição 1633

Editorial
Agosto
Paulo Barriga

Antes é que era bom. A expressão,
neste caso, não é
bem de taxista. Este “antes”
não recua propriamente até ao
tempo de Salazar. Vai apenas até há
dois anos atrás. E não tem a ver com
as políticas que então se faziam. Mas
sim com as políticas que não se faziam.
Agosto. Agosto era o mês das
tréguas. A politicagem abalava de
férias para a praia dos Tomates ou
para a Manta Rota. E deixava o povão
a chapinhar nas marés-baixas
da pré-época futebolística.
Tranquilamente. Sem sobressaltos.
Nem parvoíces. Tomates e Manta
Rota. Não sei se alguma vez se estudou
a toponímia das férias dos políticos.
Mas há qualquer coisa de revelador
no nome destes destinos
veraniços. Bom, certo é que o que antes
era bom hoje já não o é. A pasmaceira
política dos agostos de ontem
cedeu lugar ao terror. Passos Coelho
inaugurou no último agosto uma
nova modalidade de calor: a canícula
do bordão. Foi em agosto, no agosto
do ano passado, que ele e a sua jovem
guarda avançaram sorrateiramente
sobre os impostos, sobre a taxa social
única, sobre os subsídios de férias e
de Natal… Enfim, sobre as barriguinhas
desnudas e desprevenidas do
bom povo. Uma traição sem precedentes.
Não apenas pela malandrice
em si, mas sobretudo pela época em
que ela se deu. Não se faz tanto mal a
tanta gente de uma só vez e para todo
o sempre, justamente numa altura
destas. Em agosto. No nosso querido
mês de agosto. Voltou a ser agosto,
outra vez. Passos Coelho está a banhos
na Manta Rota (a praia é boa e o
nome veste-lhe bem). Teme-se o pior,
portanto. As pensões de reforma vão
levar nova esfoladela. Os funcionários
públicos vão para o olho da rua.
Milhares de professores marcham
para os centros de emprego. E não
tarda cá teremos a troika para reavaliar,
duas vezes numa só, o nosso
exemplar desempenho. Há qualquer
coisa de sinistro nisto de sermos
os bons alunos da austeridade.
Pelo menos de estranho, há. Os bons
e os maus alunos costumam ser avaliados
pelo seu empenhamento letivo
entre setembro e junho. Passos
Coelho cabula os deveres todos de
uma só penada no insuspeito mês
agosto. Nem Miguel Relvas foi tão
lesto a tirar o curso como Passos
Coelho é a afundar o País. Em agosto
Na Manta Rota

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