quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1642

Editorial
Azul
Paulo Barriga

A República está doente.
Está doente e está velha.
E como está velha
e doente fazemos com ela o que
fazemos com os nossos velhos,
mesmo quando não estão doentes:
abandonamo-los num qualquer
lar de vão de escada. Foi o
que fizemos à República: enfiámos-
lhe umas pantufas de lã, cobrimo-
la com um roupão turco,
deitámo-la ao lado de uma arrastadeira
de lata e auxiliámo-la com
um andarilho de quatro amparas.
O português enquanto novo
não gosta de envelhecer e desdenha
das coisas velhas, principalmente
quando as coisas velhas
são pessoas. Embora a República
Portuguesa, no essencial, sejam
as pessoas de Portugal, inclusivamente
o português enquanto
novo. Contraditório? Confuso?
Absurdo? Sim, e talvez nem por
isso! É natural que o português
enquanto novo fique aborrecido
com e fraternalmente preocupado
quando um presidente da
república velho faz içar o estandarte
nacional de pernas para o
ar. É aceitável que o português
enquanto novo e viçoso e produtivo
queira trabalhar afincadamente
no 5 de Outubro. Até
é compreensível que, enquanto
novo e viril, o português não
ache jeito às mamocas da moça
que há cento e tal anos escolheram
para ilustrar a revolução republicana.
Mas será espetável
que o português enquanto novo
reconheça na velha monarquia
o remédio para as doenças próprias
à idade da República? D.
Duarte Pio acha que sim! Acha
que a monarquia apenas não é viável
porque a doente República
está pejada de “ignorância” e
de “preconceito”. Em entrevista
ao “Diário do Alentejo”, esta semana,
afirma mesmo que a velha
República é a causa, ela própria,
da crise “económica e moral” que
atravessamos. E que, ao invés das
monarquias atuais, a República
Portuguesa, nomeadamente a
sua Constituição, convive mal
com a democracia. O que não
deixa de ser revelador. O herdeiro
da Casa de Bragança estima que
em Portugal existam perto de 10
mil partidários da monarquia.
Uma fartura que muito bem poderia
ser conferida num republicano,
embora democrático, plesbicito.
Mas não há memória que
a causa monárquica alguma vez
tenha colocado a hipótese de referendar
o regime. Porque certamente
reconhece que o português
enquanto novo costuma
depreciar as coisas velhas, principalmente
quando as coisas velhas
são pessoas. Ainda que o
sangue que lhes possa correr nas
veias seja da cor da festa que por
estes dias acontece no castelo de
Beja. Azul.

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