quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1643

Editorial
Hospital
Paulo Barriga

O “Diário do Alentejo”, a sua
direção, é contra o encerramento
de camas no Hospital
de Beja. É contra o esvaziamento de valências
no Hospital, é contra os cortes férreos
na área da saúde, é contra a falta de
médicos na região, é contra o aumento
das taxas moderadoras, é contra as listas
de espera para consultas da especialidade
e para as cirurgias. Enfim, o
“Diário do Alentejo” é contra tudo o que
for contra o acesso elementar e digno e
atempado da população, especialmente
das franjas populacionais mais carenciadas
e idosas, aos cuidados de saúde. Esta
posição, que aqui assumimos publicamente,
até pode parecer uma teimosia
nossa. Mas não é. É muito mais do que
isso: é uma obsessão. Somos obcecados
pelo bem-estar das nossas gentes, cegamos
perante o abandono a que as nossas
gentes estão votadas, somos obstinados
na luta contra a miséria, o isolamento,
a solidão e os maus tratos que às nossas
gentes são sistematicamente impostos.
Quer pelos diferentes governos, quer pelas
administrações locais que, muitas vezes,
costumam ser mais papistas do que
o próprio Papa. A questão, por conseguinte,
não está no campo da ética jornalística.
Ao assumirmos aquilo que somos,
como agora fazemos, estamos a
mostrar todas as cartas que temos em
mãos. Sem batotas, nem renúncias, nem
blefes, nem escondidinhos. E o leitor, de
cada vez que formos a jogo, saberá sempre
qual o nosso trunfo. A questão, isso
sim, está no campo da funcionalidade.
E é legítima. Deverá um jornal assumir
certas e determinadas bandeiras como
suas? Intransigentemente? Para além
da função de informar com isenção e rigor
e pluralidade, deverá um jornal tomar
partido? A todo o custo? Por ordem
respetiva, as minhas respostas são: sim,
não, sim, não. Um jornal, qualquer um,
tem o dever (a obrigação, aliás) de defender
os direitos, as liberdades e as garantias
que a Constituição da República
Portuguesa consagra, assim como todos
os itens da Carta dos Direitos do
Homem. Não a todo o custo, como é óbvio,
não intransigentemente. E o limite
para essa intransigência reside “apenas”
no compromisso fundamental dos jornais
que é “informar”. Por vezes, confunde-
se “informar” com “verdade” ou
com “justiça”. Nada mais errado. O jornalismo
“verdadeiro” é aquele que escuta
as partes, por igual. O jornalismo
“justiceiro” é aquele que derrapa para
uma das partes. Nas últimas semanas, o
“Diário do Alentejo”, cuja direção é contrária
à delapidação do Sistema Nacional
de Saúde, tem publicado diferentes notícias
sobre o Hospital de Beja. Que até podem
ser “justiceiras” por falta de comparência
dos próprios visados. Há pessoas
que ainda não entenderam que o direito
de informar ganha par com o direito a
ser informado. O silêncio do Hospital de
Beja em relação a matérias tão delicadas
é, para além de indelicado, perverso: costuma
haver muito mais ruído no silêncio
do que no diálogo. Há no Hospital otorrinolaringologistas
e terapeutas da fala
que podem atestar isso à presente administração
da Unidade Local de Saúde do
Baixo Alentejo. Por certo.

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