quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1647

Editorial
Reorganizar
Paulo Barriga

Eles andam aí. Melhor, eles
continuam aí. Sabe-se ao
que andam e sabe-se que
continuam. Mas raramente se
sabe quando vão mostrar os dentes.
E quando se dá por eles, geralmente,
é demasiado tarde.
Governo e governados usam dois
termos diferentes para os ataques
predadores do primeiro sobre os
segundos: reorganização e cortes.
Para quem governa, reorganiza-se.
Para quem é governado, corta-se.
Reorganizar é coisa fina. Cortar é
coisa grossa. A reorganização advém
da retórica. O corte doi de
facto no lombo. Reorganizar. Na
verdade, esta palavra até fica mal
a quem nos governa. Porque reorganizar
significa, mais coisa menos
coisa, organizar de novo, progredir,
inventar melhoramentos.
Proposições que não assistem propriamente
aos nossos governantes
de hoje. Aos governantes do
corte. Quando falam, por exemplo,
em reorganização do parque
escolar, o que querem mesmo dizer
é fechar escolas no interior do
País. Quando fizeram a reorganização
do território, o que de facto
lhes ocorreu foi somente riscar freguesias
do mapa e em seguida riscarão
os concelhos. Quando se preparam
para reorganizar o sistema
de saúde, mais não querem do que
reduzir camas nos hospitais da periferia
ou oferecê-los, os hospitais,
à caridade das misericórdias.
Quando se propõem reorganizar a
segurança interna, querem mesmo
é acabar com quartéis e esquadras
da polícia e da guarda. O mesmo
acontecerá com os pequenos tribunais
de comarca, na reorganização
do mapa judiciário. Ou com as repartições
de finanças de proximidade,
na reorganização do sistema
tributário. A palavra reorganização,
cada vez que é inscrita nos diplomas
deste Governo, é uma verdadeira
bomba atómica para quem
teima em viver fora dos grandes
centros urbanos. Pelo que a notícia
desta semana que dá conta
da reorganização do ensino superior
em Portugal é qualquer coisa
de temível. A machadinha do carrasco
pende agora e também sobre
o pescoço do Instituto Politécnico
de Beja. E quando o verdugo deixa
cair a lâmina, já o sabemos, é
mesmo para cortar. Que é a palavra
de que o Governo não gosta e
por isso inventou a outra que tal:
reorganizar. Eles continuam aí.

Sem comentários: