quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1648

Editorial
EDIA
Paulo Barriga

Escrito assim, EDIA, não
é somente o conjunto
das letras iniciais da
Empresa de Desenvolvimento e
Infraestruturas do Alqueva. Em
termos de semântica é muito
mais do que isso. EDIA é uma palavra
por inteiro. Um acrónimo,
como diriam os linguistas, para
designar as coisas (todas as coisas)
que têm a ver com o Alqueva.
A EDIA fez por estes dias 18 anos.
Uma jovem adulta ao pé da ideia
de construir um grande lago para
molhar as securas do Alentejo.
Essa, a ideia, tem 45 anos. A história
da barragem do Alqueva
e, mais recentemente, a história
da EDIA, é o decalque perfeito
da história política portuguesa
desde os últimos suspiros da ditadura.
Ou melhor: a síntese da
novela política portuguesa no último
meio século. No ano em que
uma cadeira traiu Salazar, 1968,
o Governo vigente assinou com
Espanha um convénio para a utilização
comum dos rios, tendo
Alqueva como pano de fundo. O
vai-não--vai de Salazar, o intensificar
das guerras africanas e a
Revolução de 1974 adormeceram
a ideia do grande lago alentejano.
Na fervura do Verão Quente, em
1975, o Governo decidiu finalmente
arregaçar as mangas da
camisa. No ano seguinte, e por
fim, jogou-se o primeiro betão
para o Guadiana. Mas as contas
mal medidas e o FMI pararam
a obra em 1978. O que lá restou
desses primeiros caboucos foi a
ensecadeira onde um poeta escreveu
“construam-me porra”.
Um alerta que ecoou por 17 anos
de governações falhadas, atentados,
mais FMI, integração europeia...
Até que em 1995, entre o
último fôlego de Cavaco e as primeiras
comichões de Guterres, se
constituiu a EDIA e se avançou
em definitivo para a construção
do maior lago artificial da Europa
Ocidental. Já lá vão 18 anos. Que
é precisamente a idade que tem
o esbanjamento e o clientelismo
político em nome do Alqueva. Já
se disse que a EDIA é uma palavra
por inteiro para designar as
coisas do Alqueva. Mas, até há
bem pouco tempo, EDIA era, afinal,
um sinónimo comum para
tacho, cunhas e boa-vida. Aquela
que foi, talvez, a única conquista
para Beja nos últimos 50 anos foi
também o palco privilegiado da
política miudinha local, o maceirão
da intriga partidária, o
rio grande dos favores e das pagas
e do amiguismo. Uma definição
pouco lisonjeira para a palavra
EDIA que, na administração
de João Basto, foi limpando com
sucesso, aos poucos, as nódoas
semânticas do passado. Uma tarefa
bem mais penosa do que levantar
paredões ou estender tubos
de rega pelos campos.

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