quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1652

Editorial

Jet lag
Paulo Barriga

Quando um viajante contraria
o ciclo normal de
rotação da terra, rompendo
de avião vários fusos horários,
enganando a noite e o dia,
pode apanhar uma tinhice a que
os ingleses chamam de jet lag. É
assim uma espécie de doença de
aeroporto que deixa as pessoas
ó-tio-ó-tio, sem saberem a quantas
andam, nem coisa nenhuma.
Uma verdadeira pedrada sem recurso
a substâncias alegres. Os
especialistas dizem que o jet lag
ataca em especial os seres que
fazem voos intercontinentais,
de longa distância e duração.
É o jet lag por excesso. Mas há
uma variante muito particular e
ainda não estudada do jet lag: O
jet lag por defeito. Ou rapidinha.
Na passada semana inaugurouse
o estudo desse recente fenómeno
com a realização do voo
comercial mais curto alguma
vez acontecido em Portugal continental:
Uma ponte aérea entre
Lisboa e Beja. Foram 20 minutos
de laboratório. O tempo suficiente
para concretizar a experiência
de colocar no ar um
Airbus A320 e logo de seguida
trazê-lo para terra. Com passageiros
à séria, check-in à séria,
comandante à séria, hospedeiras
de bordo muito à séria, um
membro do Governo que ninguém
leva à séria, a Lili Caneças
(a sério!) e um sério momento de
batismo hebraico da aeronave,
seguido da igualmente séria interpretação
do “Passarinho” e do
“Castelo de Beja”, pelos cantadores
de Figueira de Cavaleiros.
Tudo isto sem haver vagar para
haver permissão para haver a
possibilidade de desapertar os
cintos de segurança. Do bairro
da Encarnação à aldeia de São
Brissos vai um abrir e fechar de
olhos. E vão um moitão de coisas
novas. E estranhas. E profundas.
Tão novas, tão estranhas e tão
profundas que ainda hoje não
sei a quantas ando. Deve ser da
descompensação horária. Do tal
jet lag com aroma a coentros que
não me deixa perceber se chegámos
a Beja a tempo do Natal. De
qualquer das formas, boas festas!
Acho eu.

Sem comentários: