quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Porque é Livre a Lua...?

Oh, como o Sol amava a Lua! Tão pálida e tão adorável.

 O Sol morria por se casar com ela.

— És mais bela do que as nuvens e com mais encanto ainda do que a rosa mais fresca. Quero-te só para mim — disse-lhe o Sol.
A Lua estava habituada a brilhar sozinha todas as noites e gostava disso. Sempre que se sentia só, tinha milhões de estrelas com quem conversar, meteoros para disputar corridas e planetas que a faziam rir.
Por isso a Lua respondeu ao Sol:
— Caso contigo, mas com uma condição. Tens de me dar uma prenda linda. Gosto de camisas bordadas. De blusas brancas aos folhos. Gosto de grandes saias a flutuar ao vento da noite. Pode ser qualquer coisa, mas tem de me assentar bem. E ser exatamente do meu tamanho!
O Sol, embora estivesse cansado de aquecer a Terra e de iluminar o Céu todo o dia, passou a noite inteira acordado observando a Lua, na tentativa de escolher o presente certo. Mas não se decidia.
— Tens de ficar mais bonita ainda, quando fores minha esposa — disse o Sol. — Eu posso arranjar-te o que quiseres. Por favor, diz-me o que te agradaria mais, meu amor!
Mas decidiu-se finalmente por uma saia tecida com fio de ouro e finas tiras de luz estelar.
— Oh, todas as estrelas vão invejar a minha noiva —pensou o Sol.
Mas depois, quando o Sol viu de novo a Lua, ficou admirado: ela não era mais do que uma vaga forma, quase uma sombra do que anteriormente fora.
—Oh, minha querida! — gritou. — O amor tirou-te o apetite. Como estás magra!
Correndo, o Sol atravessou o Céu e foi ter com o seu alfaiate para que apertasse a saia de modo a que ficasse bem à nova lua nova, comprida e esbelta. Mas quando regressou, a Lua, que já engordara um pouco, não pôde fazer passar a saia pelas ancas.
— Ai! — exclamou.
E até ficou azul de tanto se esforçar, para meter o seu corpo lunar na apertada saia…
— Não é este o tamanho. Esta saia sufoca-me e tira-me a luz.
— Ai, meu amor. O que acontece é que agora estás um pouco mais gordinha, mas vais ver. Quando eu voltar, a saia vai-te assentar bem! — disse o Sol.
E apressou-se a atravessar as montanhas e a pedir ao Relâmpago que acrescentasse à saia umas riscas da sua luz resplandecente para que os quadris mais largos da Lua passassem sem problemas.
Mas entretanto, passados que foram dois dias, a Lua já estava mais gorda. Por isso, teve de conter de novo a respiração e de apertar a barriga o mais que pôde.
— Achas que eu sou tão redonda como uma panqueca? — gemeu. E ao soltar-se, o esforço que fez gelou a cara ardente do Sol.
— Como pudeste pensar que esta saia me ia ficar bem?
Durante trinta dias, o Sol tentou de novo uma e outra vez, sem nunca conseguir acertar com as medidas exatas da Lua. Sempre a mudar! Tirava-as com cuidado para que a roupa lhe assentasse na perfeição. Mas, qualquer que fosse o presente — outra saia, um chapéu diferente ou um novo casaco, era sempre muito pequeno, apertado ou largo de mais!
Por esta razão, o Sol nunca pôde casar com a Lua. Agora, todos os dias, pouco antes de ir dormir ao Céu do ocidente, o Sol observa a Lua, que às vezes está delgada, outras vezes mais redonda, com frequência num meio-termo, mas sempre a brilhar com aquela luz prateada e cintilante. E a única coisa que lhe resta é contemplá-la do outro lado do Céu quando a noite vem….
E todas as noites, antes de se deitar, o Sol suspira — longa e tristemente — pelo seu amor rejeitado.
E, em cada noite, enquanto caminha pelo Céu, a Lua ri-se de prazer e de alívio.
Mary-Joan Gerson
Fiesta femenina
Cambridge, Barefoot Books, 2003
(Tradução e adaptação)

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