sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Diário do Alentejo Edição 1660

Editorial
Deputados
Paulo Barriga
É bom vê-los assim tão durões
e ouvi-los assim tão desafinados.
Na última semana os
deputados do arco do poder eleitos
por Beja deram dois primorosos
concertos algumas oitavas acima
da pauta fornecida pelos respetivos
maestros. Ao contrário do que costuma
acontecer quando o partido
de um ou de outro está no poder,
Mário Simões (PSD) e Pita Ameixa
(PS), salvo seja, puseram a boca no
trombone a seu belo prazer. E ainda
bem que o fizeram. É música para
os nossos ouvidos. Os deputados da
República são votados em círculos
eleitorais e é aos habitantes dessas
regiões que têm de prestar contas.
E não às fileiras partidárias. A disciplina
de voto imposta pelos grupos
parlamentares, como no caso
do referendo sobre a coadoção, é
um dos maiores cancros da democracia,
um verdadeiro atropelo à liberdade
de expressão, um insulto à
cidadania participativa. O Governo,
ao seu mau jeito, criou um grupo de
trabalho para as infraestruturas de
alto valor acrescentado. Que é como
quem diz: arranjou maneira de excluir
qualquer grande investimento
no Baixo Alentejo até 2020, altura
em que finda o novo quadro comunitário
de apoio. Ninguém de bom
senso concordará com tamanho ultraje.
Mário Simões também jura
não concordar e que votará contra
o seu partido se esta proposta “ridícula
e absurda”, as palavras são
dele, for para diante. Vamos a ver
como reage o seu maestro. Nós, por
cá, aplaudimos de pé. Como com
palmas e bravos receberemos o recital
de Pita Ameixa se este, quando
ao parlamento subir a proposta
do PS para aniquilar o “Diário do
Alentejo” e o “Jornal da Madeira”,
cantar uma ária diferente da do seu
partido. Há uma iniciativa legislativa
socialista para proibir o Estado
de deter órgãos de comunicação social.
Um diploma tão absurdo que,
no essencial, é uma grande exceção.
Estão fora das pretensões do PS a televisão,
a rádio e a agência noticiosa
públicas. Restando uma lei inteirinha
para os jornais atrás referidos.
Pita Ameixa diz que não concorda,
que não assinou o texto e que nele
não votará. Cá estaremos para assistir
ao desfecho do triste espetáculo.
Até ao cair do pano.

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