Território
Território. Não há palavra que esteja mais na moda.
Principalmente em regiões como esta que as fotografias mostram. Terras despidas
de gente. Gente entrada na idade. Idade que não perdoa. Como difícil perdão terão
os escrivães que têm tecido as leis que obrigam as estas terras ficarem cada
vez mais despidas de gente. Com gente cada vez mais entrada na idade. Na tal
idade que começa a não ter perdão. Alentejano. É o mais sábio dos homens, o
homem que habita o Alentejo. É um ser austero e astral, ao mesmo tempo. Isso
vê-se, ou melhor sente-se, na relação cuidada que mantêm com o meio. Que é
aquilo a que hoje, por estarmos na moda, chamamos território. O alentejano não
ocupa um determinado território, neste caso o concelho de Beja. O alentejano é
o próprio território. É parte integrante e indivisível da paisagem e da matéria.
É, aliás, o elemento vertical da paisagem. Tudo o resto é horizontal nestas
paragens: as sementeiras, as árvores, os rebanhos, as casas, as aldeias. Tudo
menos ele. Mesmo quando tem necessidade de intervir na paisagem, o alentejano é
religiosamente escrupuloso. E é precisamente do céu que se reconhece melhor
essa sua religiosidade. As casas que habita, cobre-as com telhas do mesmo barro
que pisa e cava e semeia. Pelo que as aldeias e as vilas e até as cidades que
tece em emaranhados de ruas que escorrem para um largo, vistas de cima, não são
localidades. São terra como toda a terra em volta. Cá em baixo é diferente. Cá
em baixo unta as paredes de barro com pinceladas de cal. Com pinceladas de luz.
Que é, afinal, tudo aquilo que nos traz a esta exposição: a luz, a terra, o
homem, as aldeias… O território.
Paulo Barriga
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