sexta-feira, 11 de abril de 2014

Diário do Alentejo Edição 1668


Editorial
Dante
Paulo Barriga

O Alentejo está condenado
a prazo pela demografia.
Não há
qualquer estratégia ou plano
de desenvolvimento que possa
medrar com uma população
envelhecida e com tendência
para encolher extraordinariamente
nos próximos
anos. Mais grave, não há varinha
mágica nem poção milagrosa
capaz de inverter esta situação.
Qualquer agenda para
o futuro feita com base nos indicadores
populacionais do
presente será um mero exercício
especulativo ou demagógico.
E também não será a
agricultura, apenas ela, nem o
turismo, somente ele, que animará
a economia local a ponto
de criar emprego generalizado
e digno, ao ponto de fixar os
jovens, ao ponto de estancar a
sangria humana. Esta doença,
a doença do arco demográfico
a apontar para baixo, é própria
dos chamados territórios
de baixa densidade. Mas acomete
com uma ferocidade impar
o Alentejo. Uma região tradicionalmente
desprovida de
um tecido económico diversificado,
com uma estrutura social
cavada e adversa ao florescimento
da chamada “classe
média”, culturalmente desfavorável
à criação do próprio
emprego, dependente quase
em exclusivo dos serviços e
aniquilada pelos êxodos migratórios
de meados do século
XX. Uma região estruturalmente
doente, com uma crise
muito própria e muito antiga,
à qual se junta com estrondo a
crise do atoleiro económico e
financeiro onde caiu Portugal.
E, ao invés da euforia governamental
pós-troika, a crise no
Alentejo ainda não mostrou
o seu verdadeiro rosto, ainda
não bateu no fundo, ainda o
penadoiro vai no adro. Esta é a
tonalidade do quadro que diferentes
especialistas na área da
geografia, da economia, da sociologia
e da política pintaram
no último fim de semana, nas
Conferências de Aljustrel. Um
retrato negro, com pinceladas
medonhas e contornos tremendos.
Um retrato que exige
imediata intervenção e pronto
restauro, correndo-se o risco
de se perder para sempre a coloração
original. Esta é a hora
exata de tocar a cerrar fileiras.
De todos, em conjunto, arregaçarmos
as mangas. Porque
se já temos o retrato dependurado
e a envelhecer por detrás
da porta, não tarda passaremos
a contemplar unicamente
a paisagem que Fernando
Pessoa traçou para o Alentejo:
“Se isto não é o inferno, onde
diabo será ele?”

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