segunda-feira, 12 de maio de 2014

Diário do Alentejo Edição 1672


Editorial
Nós
Paulo Barriga

É sempre tão difícil falar de
nós. De nós próprios. A
psicanálise por certo terá
explicações para esta imperfeição
congénita do ser humano.
Mas o povo também tem as suas
sábias mezinhas para justificar a
ineficácia, o pudor e até mesmo
a soberba que sempre afetam a
autoanálise. Nós. Há um ditado
brasileiro que diz o seguinte:
“O macaco senta-se em cima do
rabo para falar do rabo dos outros”.
Os jornais, os órgãos de comunicação
em geral, costumam
ter o mesmo costume dos macacos.
Uma certa sobranceria, para
não dizer pretensiosismo, impede
os jornais e os jornalistas de
assumirem os seus erros, os seus
defeitos, as suas lacunas. E tantos
que são. Um certo pudor, para não
dizer desvaidade, impede-os de
assumir em público as suas virtudes,
os seus méritos, as suas superações.
E tantas que identicamente
são. Hoje vamos falar de
nós. Do “Diário do Alentejo”. E
do contentamento que nos invade
por termos sido distinguidos
no Prémio Dignitas com
uma reportagem sobre crianças
com necessidades especiais, assinada
por Bruna Soares. O “DA”,
aliás, foi o único órgão de imprensa
reconhecido nesta edição
do prémio e o único título
regional nele alguma vez mencionado.
Sim, é verdade, um jornal,
em virtude de sobreviver no
calor dos acontecimentos, é uma
compilação de erros, de falhas e
de omissões. Tanto “mais aceitável”
é um jornal, quanto menores
forem as suas derrapagens.
Aqui, hoje, errámos pouco.
Quase nada. Nada, mesmo. Que
contentamento! Já no ano passado
a Unesco nos tinha recompensado
com o prémio “Direitos
Humanos & Integração”. E no outro
ano, foi a Casa da Imprensa e
o El Corte Inglés que nos atribuíram
o Prémio Stuart de Desenho
de Imprensa, pela ilustração
que Susa Monteiro desenhou
para uma primeira página do
“Diário do Alentejo”. Os prémios
são o que são e valem o que valem.
Mas vindos dos nossos pares,
de quem, como nós, todos os
dias se empenha na causa do jornalismo,
acarretam uma enorme
alegria. E desenterram essa vontade
sempre tão imperfeitamente
contida de falarmos de nós. De
nós próprios. O artigo agora distinguido
aborda o direito à diferença.
Se, por ventura, o “Diário
do Alentejo” marca a diferença
isso deve-se ao conjunto da sua
equipa e, sobretudo, aos seus leitores.
É desta nossa família incomparável
e cada vez mais vasta
que falo, quando escrevo nós!

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