sexta-feira, 16 de maio de 2014

Diário do Alentejo edição 1673

Editorial
Americanos
Paulo Barriga


Não há fumo sem fogo.
Segundo os especialistas
este é, muito certamente,
um dos provérbios mais antigos e
mais conhecidos em todas as sete
partidas do globo. Um ditado universalista
que se aplica que nem
uma luva à base militar de Beja,
também ela uma “cidadã” do
mundo. Mais que não seja pelas
notícias que, a espaços, dão conta
da sua utilização por tropas daqui
e dali. A base foi criada por portaria,
em 1964, para responder aos
acordos bilaterais entre Portugal e
a República Federal da Alemanha.
Mas as suas infraestruturas apenas
foram concluídas em 1968. Os
alemães chegaram dois anos depois
mas acabaram por se retirar
em 1973. Tendo regressado em
1979, com uma esquadra de aviões
Alpha-Jet, debaixo de um acordo
que terminaria em 1993. Em termos
de economia local, foi o período
mais eufórico e florescente
que por cá alguma vez se viu e viveu.
A abalada dos alemães coincide,
por outro lado, com o início
de uma depressão coletiva, social,
económica, emocional, que se arrasta
até hoje e que parece não ter
fim à vista. Ao bom jeito do espírito
messiânico lusitano, Beja ficou
órfã e envolta num nevoeiro
sebastiânico. Cerrado e infindável.
Pelo que todos os vultos que
se enxerguem ao fundo da pista,
logo são confundidos com o retorno
do salvador. Foi assim há
dois anos quando a silhueta da
força área da Coreia do Sul tremeluziu
sobre a planície. Foi assim
no final do ano passado quando
a salvação dos aflitos parecia vir
montada em aviões militares do
Canadá. Está hoje a ser assim com
os contornos pouco definidos da
vinda para Beja das tropas norte-
-americanas que estão estacionadas
na base sevilhana de Móron
de la Frontera. Notícia já desmentida
pelo Pentágono. Mas como
não há fumo sem fogo. Ou melhor,
como nem tudo é o que parece
ser, cá ficamos mergulhados
nesta espécie de esperança muito
nossa. Ainda que os únicos americanos
que se vislumbram na neblina
sejam os hambúrguers do
McDonald’s .

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