sexta-feira, 27 de junho de 2014

Diário do Alentejo Edição 1679

Editorial
66
Paulo Barriga

Esta semana, os 66 diretores
clínicos e não clínicos e os
responsáveis pelas unidades
intermédias de gestão do Hospital
de São João, no Porto, demitiram-
-se em bloco. Uma tomada de posição
dura, firme, e que, veja-se,
obteve a solidariedade do próprio
conselho de administração daquele
centro hospitalar. Os técnicos demissionários
alegam que, nas atuais
condições e circunstâncias, não
podem prestar um serviço de qualidade
aos doentes. Isto porque o São
João está subfinanciado, os equipamentos
estão obsoletos, faltam
materiais e medicamentos e a “asfixia
burocrática” imposta pela tutela
impede a contratação de pessoal
em falta no grande hospital
do Porto. Vai daí, segue uma cartinha
para o Governo. E nem foi preciso
redigir uma resposta em papel
timbrado, para o ministro Paulo
Macedo acenar com um acordo de
“natureza imediata” onde se propõe
resolver os problemas de recursos
humanos do Hospital de São
João, criar uma maior flexibilidade
nos investimentos e uma maior autonomia
daquela unidade hospitalar.
É evidente que os 66 do Porto
não retiraram os seus pedidos de
demissão. Apenas deram ao ministro
um prazo de 15 dias para resolver
os problemas, de facto. E depois
se verá. Os problemas do Hospital
de São João são os mesmos do hospital
de Beja. Corrijo, são os mesmos,
aos quais se acrescentam todos
os outros que têm a ver com a
interioridade, com o rácio populacional
e com a qualidade da gestão.
E, mais recentemente, com a requalificação,
por portaria governamental
de 10 de abril, das unidades locais
de saúde, ao abrigo da qual a
do Baixo Alentejo foi desqualificada.
Ficando em risco a existência
em Beja de especialidades como ginecologia/
obstetrícia (o que poderá
levar ao encerramento da maternidade),
oncologia, urologia, pneumologia,
cardiologia, otorrinolaringologia,
hematologia, reumatologia
e oftalmologia. Isto para já nem
falar do mais que certo encerramento
ou alienação do Hospital de
São Paulo, em Serpa. Parecem-me
“ias” em demasia para que se mantenha
este silêncio fúnebre ao nível
do conselho de administração
da Ulsba e, inclusivamente, ao nível
dos diretores clínicos e de gestão do
hospital de Beja. Um silêncio contrastante
com o ruído vitorioso dos
seus colegas portuenses. Um silêncio
que cheira a medo ou a alinhamento
cego e seguidista com as políticas
governamentais para a saúde.
Ou as duas coisas ao mesmo tempo.
Políticas governamentais, aliás, que
o próprio ministro reconhece serem
restritivas para a boa saúde dos hospitais.
Ou será que Paulo Macedo
reagiu à insubmissão coletiva do
Hospital de São João, como diriam
as nossas avós, ao jeito do “quem
não chora não mama”?

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