sexta-feira, 25 de julho de 2014

Diário do Alentejo Edição 1683

Editorial
Oh Elvas…
Paulo Barriga

Durou o parto nove meses.
Nada de extraordinário
para qualquer ventre
materno, não se tratasse, este,
do ventre da autarquia de Elvas.
Que, como qualquer barriga autárquica,
leva gestação de quatro
anos. E não de nove meses. Mas a
placenta que aconchegava o feto
recém-eleito do executivo municipal
de Elvas rebentou prematuramente.
Soltaram-se as águas. E não
são poucas, as águas que por lá metem.
O acontecimento tem laivos
de caricato, de inaudito, e conta-
-se resumidamente assim: Durante
mais de 20 anos, a Câmara de
Elvas foi governada por Rondão
de Almeida, autarca socialista com
comenda de honor. Entretanto,
dá-se o enleio da aplicação da célebre
lei da limitação de mandatos.
Facto indesejável que inibiu
o comendador Almeida de se recandidatar
à cadeira da presidência.
Mas não o impossibilitou de
se apresentar a votos. De uma assentada,
em setembro último, apareceu
aos eleitores como cabeça de
lista do PS à Assembleia Municipal
e em terceiro lugar na lista socialista
à câmara. Foi duplamente
eleito. Mas teve de optar. Escolheu
ser vereador de um executivo liderado
pelo seu anterior vice-presidente,
Nuno Mocinha. Que de
mocinho não teve nada e depressa
percebeu que era “presidente” de
uma edilidade que tinha lá dentro
outra edilidade, tipo matrioska
russa, liderada, imagine-se, por…
Rondão de Almeida. Mocinha, dizem
as notícias desta semana, não
foi de modas e retirou os pelouros
que tinha atribuído a Rondão
e à sua suposta atual vice-presidente,
Elsa Grilo. As razões apresentadas
são simples. Não tenho
“liberdade suficiente para exercer
o cargo”, chorou Mocinha. Ao que
Rondão de Almeida poderá ter respondido:
“Ai ele é isso?”. E na próxima
reunião de câmara, todos os
vereadores do PS, por sugestão de
Rondão, vão apresentar um requerimento
“para retirarmos os poderes
que demos ao presidente”, as
palavras são do próprio Almeida,
e para, todos juntos, suplentes incluídos,
renunciarem ao mandato.
Nas Autárquicas de setembro, o PS
obteve perto de 70 por cento dos
votos. Elegeu seis vereadores e o
CDS-PP apenas um. Coitado. O panorama
é de eleições intercalares
em Elvas. E imagine-se quem liderará
a lista do PS? Não, Rondão de
Almeida não pode ainda, mas deve
ir em segundo lugar,… Elsa Grilo,
já publicamente indicada por…
Rondão de Almeida, tal como antes
tinha feito com… Nuno Mocinha.
Oh Elvas, oh Elvas, ou tudo isto é
uma valente brincadeira de mau
gosto, rasca, tipo thriller série B,
ou então Henry Kissinger é que estava
certo, pela pior das razões: “o
poder é o mais forte dos afrodisíacos”.

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